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Conhecer o mundo pela perspectiva infantil

22 de agosto de 2018

Enxergar situações difíceis, como guerras e conflitos, do ponto de vista das crianças permite que a gente compreenda como entendem o mundo e as ajude a lidar com questões de natureza complexa como essas.

Não é a primeira vez que este tema é tratado no Toda Criança Pode Aprender, como é possível conferir aqui, aqui, aqui e aqui, por exemplo. Entretanto, acreditamos ser fundamental conhecer o ponto de vista infantil sobre o mundo, em especial porque, como adultos, somos responsáveis por mediar as interações das crianças com o contexto no qual estão inseridas e contribuir para que possam ampliar sua compreensão sobre ele.

Neste post, nosso olhar é levado à Síria, mais especificamente para a Alepo no período entre 2011, auge das revoltas, e 2017, ano em que a população da cidade foi libertada pelo exército. É Myriam Rawick quem traz, sob sua perspectiva, as experiências que viveu ali entre seus 6 e 11 anos de vida. O diário que produziu neste período está sendo publicado aqui no Brasil, pela editora Darkside.

Embora tenha sido editado por um jornalista francês, o ponto de vista infantil foi assegurado na obra. Por meio da obra, é possível ver como algumas situações são captadas e sentidas de modos bem particulares pelas crianças. Um exemplo disso se dá quando familiares de Myriam começam a acompanhá-la diariamente no percurso para a escola, por ter se tornado bastante perigoso. A menina, porém, aprecia a novidade já que passa a ganhar um bolo de massa folhada com pistache comprado no caminho.

Em outros momentos da narrativa, Myriam tenta entender o que é revolução e o que aconteceu com um prédio conhecido que se transformou em ruínas. A menina também registrou em seus escritos como foi lidar com eventos ainda mais trágicos, como o assassinato de um familiar, o sequestro de outro e as notícias sobre a morte de crianças. Ela conta ainda que não era incomum que avistasse poças de sangue pelas ruas ou que brincasse com “pedacinhos de metal dourado”, que na verdade eram balas de metralhadoras.

Por meio do livro, também é possível ver como os adultos explicavam a situação quando questionados por Myriam. Muitas vezes, informavam que não era assunto para crianças. Apesar disso, ela seguiu fazendo suas descobertas.

As crianças estão sempre muito atentas ao que acontece ao redor delas. Por vezes, na tentativa de protegê-las, os adultos evitam responder questões ou oferecem respostas bem distantes da realidade. Isso, na maior parte das vezes, gera mais dúvidas e até angústias nas crianças. Afinal, elas estão interagindo com informações que ouvem ou leem, com acontecimentos que vivenciam, e estão pensando sobre eles e tentando compreendê-los.

Conversar com as crianças sobre essas situações é essencial. Mais do que isso, é importante abrir espaço para que elas explicitem suas hipóteses e seus olhares por meio da fala ou de registros como o desenho ou a escrita. Isso permite não apenas que nos aproximemos de suas formas de ver os acontecimentos, mas ajuda os pequenos a organizarem suas próprias ideias e pensamentos. A mãe de Myriam foi quem a incentivou a registrar suas experiências, desde pequena, como forma também de enfrentar o imenso e cotidiano desafio de viver em uma zona de conflitos.

De acordo com Stéphanie Habrich, fundadora do jornal Joca, é interessante que as crianças possam ter acesso a histórias como as de Myriam, algo que contribui para que se tornem mais fortes e resistentes para enfrentar seus próprios problemas, além de instigá-las a produzir seus próprios relatos.

Por conta do teor do diário, as crianças podem se entristecer com alguns dos episódios do livro. Por isso, consideramos pertinente que narrativas como essas sejam lidas por crianças maiores, sob a mediação de adultos que estejam abertos a conversas e trocas para ajudá-las a ampliar suas compreensões sobre o mundo e toda sua complexidade.

Fonte de informações: texto “Infância em ruínas”, caderno “Aliás, Literatura” do jornal O Estado de S.Paulo, de 29/7/2018.
Livro: O Diário de Myriam, de Myriam Rawick e Philippe Lobjois, Editora Darkside.

Verifique se os livros indicados neste post estão disponíveis em alguma biblioteca próxima a você. Também é possível adquiri-lo no link abaixo:

 

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