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Escola “faz-tudo”: será mesmo uma boa ideia?

Imagem retirada de Pixabay.
5 de junho de 2017

Escola que disponibiliza vários serviços e promete poupar tempo das famílias. Vamos refletir sobre o que isso representa?

Situada na zona oeste de São Paulo, mais precisamente na região dos Jardins, há uma escola que fica aberta das 8h da manhã até as 20h da noite, atendendo crianças de 4 meses a 6 anos de idade, e que traz para dentro do seu espaço certas propostas que vão para além do projeto pedagógico. Atendimentos como lavar o uniforme, vender papinhas e comidas congeladas, trazer cabeleireiros uma vez por mês para cortar o cabelo dos alunos, entre outras tarefas, são vistas como parte das “facilidades” que lá podem ser encontradas.

A diretora do local e alguns pais entrevistados em reportagem à Uol afirmam que a ideia partiu de reinvindicações de familiares que queriam um “tempo de qualidade” maior com os filhos, deixando delegadas à babás e funcionários preocupações como fazer compras em supermercado, lavar as roupas dos pequenos e ter de cozinhar para eles. Segundo a gestora da escola, estes serviços “técnicos” podem ser executados tranquilamente pela instituição, deixando para a família o carinho, o afeto e a companhia que lhes cabe.

Se olharmos simplesmente pelo lado funcional de tais atividades parece que, de fato, a escola está contribuindo com as dinâmicas domésticas, abrindo espaço para a convivência entre pais e filhos. Aprofundando um pouco mais o olhar a respeito desse cenário, logo veremos que existem questões importantes e estruturais complexas a serem levadas em conta aí.

Além da função educativa de se misturar com demandas de mercado, terceirizar funções que habitualmente são construídas dentro de casa, acaba delegando a outras pessoas uma dedicação aos pequenos que é elementar nesses primeiros anos de vida. O tempo que se passa ao lado deles é tão importante quanto a qualidade investida nesses momentos. A combinação entre atenção e presença permanentes é que vai dando sustentação para que esse desenvolvimento seja saudável.

É muito interessante observar o modo como cada adulto responsável dá conta de acompanhar suas crianças em atividades rotineiras. Não só nos ambientes dentro de casa e nas tarefas domésticas, mas na rua, na feira, no mercado, na lavanderia etc. Em todos esses ambientes ensinamos um bocado de coisas a elas, como sobre a matemática necessária para se adquirir um produto, as diferenças entre as pessoas que vivem na mesma cidade que nós, como elas trabalham, como podemos nos locomover, escolher os alimentos que vamos comer, lavar e secar as roupas que vamos vestir, entre tantas outras coisas que acabam se perdendo quando deixamos essas vivências puramente para a escola. São situações que envolvem os adultos nesse processo educativo, dando-lhes a oportunidade de aprenderem junto com seus filhos e de estabelecerem interações mais significativas. Afinal, o contato próximo em todos esses momentos e situações cotidianas estreitam e intensificam os laços afetivos entre os membros de uma família.

Portanto, vale refletir, pesando na balança, se de fato as facilidades que nos oferecem em meio à correria do dia a dia substituem o valor dessas experiências ao lado das crianças. E você? O que pensa a respeito disso?

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