Projeto fortalece a relação de educadores do Maranhão com a literatura | Labedu

Projeto fortalece a relação de educadores do Maranhão com a literatura

10 de novembro de 2025

Ler vai além de decodificar palavras: é um objeto cultural que precisa ser ensinado e vivido com intencionalidade, por meio da interação e da mediação de outras pessoas. Partindo desta compreensão, referenciada na obra da pesquisadora Ana Teberoski*, o Labedu desenvolve encontros semanais de leitura com educadores maranhenses que participam do projeto Aprender: Dentro e Fora da Escola, realizado em parceria com a Seduc/MA. Intitulada Percurso Leitor, a iniciativa oferece um espaço de prática literária para os adultos que trabalham com o desenvolvimento da linguagem infantil. Por trás da iniciativa, está a aposta de que, ao investir na experiência pessoal de leitura de cada participante, embasamos sua concepção de leitura e, consequentemente, seus olhares e atuações na educação infantil.

O Percurso Leitor nasceu nos encontros formativos do Aprender, que desde 2019 promovem espaços de reflexão sobre práticas pedagógicas e fortalecem a formação docente. Neste novo formato, o contato com a leitura literária ganha mais espaço, passando a acontecer em um horário separado dos encontros formativos pedagógicos. A ideia é incentivar que a leitura entre na rotina semanal, convidando os participantes a se reconhecerem como leitores e a se aproximarem de obras que provocam reflexão e ampliam repertório literário.

As reuniões semanais online são conduzidas pela pesquisadora do Labedu Paula Cruz Pereira. Cada encontro é formado por momentos de discussão coletiva dos trechos lidos semanalmente, seguidos de perguntas e atividades propostas pela mediadora. Assim, o grupo é estimulado a construir sentidos compartilhados, ao mesmo tempo em que experimentam e exercitam estratégias de leitura, como formulação de hipóteses, identificação de temas universais e apreciação estética da linguagem.

No primeiro semestre, o grupo leu a obra Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva. Nesta edição, o título escolhido foi A Cabeça do Santo, de Socorro Acioli. A escolha agradou os participantes, que estão engajados com os encontros. “O livro é engraçado e muito fiel à cultura nordestina. Mostra um modo de viver que reconhecemos, a fé, o humor, as dificuldades e o cotidiano de cidades pequenas. Me lembrou de ‘O Auto da Compadecida’. Gostei muito da escolha”, relata Dilma Pessoa, formadora Regional do LEEI (programa Leitura e Escrita na Educação Infantil, de formação docente, coordenado pelo Governo Federal).

Para Paula Cruz Pereira, o Percurso Leitor é uma oportunidade também de inspirar práticas de leitura mais autênticas e de qualidade com as crianças. “É muito mais possível que um educador forme leitores quando ele ou ela também vive e conhece a experiência da leitura em sua própria vida. Quem lê vai aprendendo a reconhecer metáforas e ironias, perceber diálogos com outras obras, enxergar relações e diferenças entre as suas opiniões e as dos outros, sabendo que nem sempre existe uma única interpretação certa. A essência da leitura está aí, para nós e para as crianças pequenas também. E a leitura mediada em grupo potencializa tudo isso”, afirma.

Ela reforça, ainda, o papel dos professores como influenciadores de leitura. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2024, os docentes aparecem entre as principais referências que despertam o gosto pela leitura. “Queremos tornar a leitura de literatura algo muito mais palpável, mais acessível. A proposta é descomplicar e aproximar os textos da gente”, acrescenta.

A iniciativa segue como um espaço de troca e formação contínua, mostrando como a experiência literária dos formadores pode se refletir na prática profissional, como afirma o Articulador Pedagógico Regional João Bosco Gurgel, do município de Açailândia (MA). “O Percurso Leitor, em sua essência, vem contribuindo de forma muito positiva, sobretudo na percepção de determinados valores, crenças e nos modos de ver, sentir e refletir, a partir do descortinamento da leitura literária. Como sou formador de formadores, entendo que a literatura faz diversas conexões com o contexto formativo. Muitas de suas artimanhas metafóricas exercem papel fundamental no sentido de estimular o outro a arrancar um bocado de sentimentos e emoções que vão de encontro àquilo que nosso cérebro vai processando no decorrer da leitura”, conclui. 

*Palavras às professoras que ensinam a ler e escrever, Ana Teberosky (2020).

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