Escutar as crianças (de verdade) não só demonstra afeto mas favorece seu desenvolvimento
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Escutar as crianças (de verdade) não só demonstra afeto mas favorece seu desenvolvimento

Em parceria com Portal Lunetasicone-link-externo

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12 de abril de 2019

A escuta demonstra atenção, afeto e cuidado e pode ter consequências benéficas para os pequenos e suas relações.

Escuta infantil. O que é? Como colocar em prática? E por que ela representa a manutenção dos direitos da criança?

Escutar crianças é um gesto sensível, que ultrapassa a ação, embora tenha início com ela. É um processo que demanda atenção, cuidado e, principalmente, disponibilidade – não só de tempo, mas de afeto. A complexidade esbarra em uma série de questões práticas, como a falta de tempo dos adultos para dar conta de todas as demandas das crianças. Então, como praticar a escuta de fato? Não à toa, muitos profissionais se dedicam a pesquisar esse tema.

Conheça Adriana Friedmann

Doutora em Antropologia, Mestre em Educação e Pedagoga. Especialista, docente, palestrante, pesquisadora e consultora nacional e internacional de ONG’s, fundações, secretarias, escolas, nas temáticas da infância, pesquisas com crianças e linguagens expressivas. Criadora e coordenadora do NEPSID(Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento e do Mapa da Infância Brasileira), de São Paulo. Coordenadora do curso de Pós Graduação “A vez e a voz das crianças: a arte de escutar e conhecer narrativas, linguagens e culturas infantis”, A Casa Tombada, lugar de arte, cultura e educação, na zona oeste de São Paulo. Autora de livros e artigos na área, dentre eles “Escuta e observação de crianças: processos inspiradores para educadores” e  “Quem está na escuta”.

Dar voz, considerar, perceber, observar, favorecer autonomia: todos esses verbos estão relacionados ao que se convencionou chamar de escuta infantil. E todos eles fazem parte de uma mesma preocupação, a de reconhecer a criança como indivíduo pleno, capaz e dotado de subjetividades que fazem dela um legítimo ator social; ou seja, a criança é um sujeito de direitos.

O grande desafio, então, é do adulto. Como considerar todos esses fatores nos mais diversos ambientes sociais – em casa, na família, na escola, na mídia? A educação das novas gerações está diretamente ligada à sensibilidade de perceber esses elementos como chaves de uma relação saudável e plena com as crianças. Porém, é comum que alguns pais, professores e cuidadores confundam o conceito de escutar as crianças com permissividade, desconsiderando a importância dessa escuta antes mesmo de praticá-las.

Como ouvir o que os pequenos têm a dizer e ainda assim manter o papel do adulto nessa relação, de educar, colocar limites e estabelecer pontes seguras entre as crianças e o mundo? Para refletir sobre essas e outras questões relacionadas a como escutar as crianças, conversamos com a antropóloga Adriana Friedmann.

Lunetas – Ao seu ver, o que é verdadeiramente escutar uma criança?

Adriana Friedmann – Escutar crianças tem a ver com uma postura e mudança de atitude daquele que escuta; tem a ver com compreender que cada criança tem um repertório próprio, interesses, necessidades e potências únicos. Abrir-se para entender então que, nós adultos, podemos aprender com elas, nos surpreendermos, e precisamos aceitá-las e descobri-las no seu âmago, sem a pretensão de corrigir ou necessariamente ensinar-lhes alguma coisa.

Todo ser humano quer ser escutado mas, principalmente, respeitado. Não é diferente com as crianças.

O que muda é que quando nos comunicamos ou interagimos com crianças, costumamos estabelecer relações ‘não simétricas’. Conseguir se colocar no lugar da criança, ‘na altura’ da criança, estar junto nos seus universos, nas suas brincadeiras, na sua imaginação, são algumas pistas no processo de escutá-las. Mas, para tal, precisamos partir da premissa que criança tem direito de ser respeitada na sua singularidade, direito a ter espaço e tempo livres para experimentar, descobrir o mundo, descobrir o(s) outro(s) e se descobrir a si mesma.

Não esquecer e resgatar essa criança que cada um foi um dia, ajuda também nessa abertura para a escuta.

Lunetas – Como você explicaria qual a importância da escuta infantil de uma forma simplificada para alguém que não tem familiaridade com o termo?

Adriana Friedmann – Inseridas em uma sociedade com valores e normas diversos, conforme cada contexto familiar, escolar e cultural, as crianças possuem, cada uma, sua própria individualidade, formas de pensar, de sentir e de se expressar.

A escuta infantil é importante pois é urgente entender que as crianças, assim como os adultos, são atores sociais, protagonistas e autoras das suas próprias vidas.

A importância de escutar crianças passa por conhecê-las na sua essência única, compreender quais são seus canais expressivos mais potentes (e únicos para cada uma); para algumas, é a expressão corporal, o gesto, o movimento; para outras é a diversidade de expressões plásticas; para outras ainda, é a expressão musical; para outras, a palavra oral ou escrita; para todas elas, é a brincadeira e a possibilidade de ser desafiadas e de dar vazão à livre imaginação.

Lunetas – Muitos adultos que convivem com crianças, principalmente mães e pais que estão na lida diária, podem se frustrar com o assunto, porque falta tempo até mesmo para as tarefas mais básicas do dia a dia. Como equilibrar a falta de tempo do adulto com a necessidade de tempo da criança?

Adriana Friedmann – A correria do cotidiano acaba automatizando a comunicação com as crianças. Se os adultos – pais, mães, cuidadores e educadores – compreenderem a importância de um olhar, de uma palavra ou de um gesto verdadeiro para com as crianças com quem convivem, já abrirão as primeiras possibilidades para esta escuta.

Para pensar mais sobre a maneiras e os efeitos de escutar as crianças de forma ativa e consciente, leia a íntegra da entrevista no Portal Lunetas.

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