27 de setembro de 2022
O Laboratório de Educação promove a melhoria de práticas educativas através de metodologias, projetos e produtos desenvolvidos com base em pesquisa, implementação e avaliação sistêmica. E tem como premissa devolver à investigação acadêmica as questões geradas na aplicação prática do conhecimento pedagógico, reiniciando o ciclo na busca do aprimoramento constante de suas metodologias de atuação. Sabemos que estamos no caminho certo quando essas pontas se encontram.
O volume 12 da Revista Acadêmica de Educação Veras publicou recentemente um relato sobre a experiência de implementação do Projeto Aprender a Estudar Textos (AET) em 2021. Desenvolvida pelo Laboratório de Educação, a metodologia de formação continuada do Projeto apoia professoras dos 4º e 5º ano do Ensino Fundamental no estudo e planejamento de atividades que incorporam a linguagem acadêmica como ferramenta de ensino e de aprendizagem, contribuindo para que os alunos se tornem leitores ávidos e críticos, que não só compreendem o que leem nas diferentes áreas curriculares, como também aprendem a pensar, refletir, formar opinião, dialogar e estabelecer relações entre os conteúdos das mesmas. Por meio de um conjunto estruturado de ações formativas, o AET subsidia a reflexão docente sobre como promover interações comunicativas que deem aos estudantes chaves para entrar no mundo do conhecimento a partir dos textos.
No artigo, é descrita a estrutura cíclica do Projeto, que oferece às professoras a oportunidade de experimentar o planejamento de situações práticas não só ao final, mas ao longo do processo formativo. Esse percurso “em espiral”, baseado na ação-reflexão-ação, foi testado na Escola Estadual Prudente de Moraes em 2019, em um estudo piloto, e aprimorado na edição de 2021, apresentada no texto da publicação.
No contexto atual de implementação do AET, as professoras já finalizaram os encontros de formação correspondentes a cinco textos modelares disponíveis na plataforma do Projeto. Após estudar o texto e os fenômenos linguísticos articuladores de seus enunciados, as professoras vêm analisando, discutindo e se apropriando de um repertório de atividades que estão sendo desenvolvidas mensalmente em sala de aula. Para dinamizar o compartilhamento dos aprendizados promovidos, favorecendo trocas diretas entre as participantes antes e depois deste momento, foi criado um espaço virtual para socializar registros (fotos, vídeos, áudios, produções dos estudantes) propostos a partir de consignas reflexivas desenvolvidas pela equipe de formação do LABEDU.
No processo deste ano, a inclusão intencional das Coordenadoras Pedagógicas (CPs) no desenho do Projeto tem como objetivo focar no desenvolvimento destas profissionais como formadoras. A equipe tem apresentado um conjunto de referências e propostas de ação para que as CPs exercitem esse lugar de quem olha concomitantemente para as expectativas de aprendizagem dos estudantes e para as necessidades formativas das docentes. Para a primeira experiência, por exemplo, foi elaborado um percurso de colaboração que permitiu documentar, analisar e valorizar o trabalho realizado pelas professoras e as aprendizagens conquistadas pelos alunos.
Como pudemos perceber nos relatos de cada um de vocês, a observação de sala de aula é uma estratégia formativa importante para acompanhar a aprendizagem das crianças e apoiar o trabalho do professor. Hoje refletiremos também como ela pode ser uma aliada no trabalho formativo do coordenador. Para tanto, analisaremos alguns trechos de dois registros que são representativos de situações ocorridas na maioria das escolas. (Caroline Rezende, formadora do projeto AET)
A partir da socialização e reflexão dos registros das próprias Coordenadoras, foi possível estabelecer relações entre os desafios enfrentados no trabalho em sala de aula e a intencionalidade dos formadores ao planejar as estratégias utilizadas nas reuniões (por exemplo, a tematização de práticas que exemplificam "o que", "como" e "por que" conduzir as interações em torno do texto de uma ou outra forma).
Leia a seguir um trecho do artigo que explicita um pouco sobre a metodologia de atuação do AET:
Alicerçado em princípios teóricos derivados da psicologia e da linguística cognitiva, o Projeto Aprender tem como objetivo aproximar as professoras de um repertório teórico e procedimental que lhe sirva de apoio ao planejamento. São apresentadas propostas modelares – cada uma organizada em torno de um texto – onde as professoras são convidadas a analisar e estudar um conjunto de atividades de leitura e estudo de textos que vão sendo implementadas em sala de aula com os estudantes. Assim, as situações formativas propostas, que ocorrem em ciclos, privilegiam a reflexão pedagógica em torno das ações das professoras e a relevância dos conhecimentos linguísticos e didáticos, sempre de maneira articulada à prática.
Para dar sustentação à implementação pedagógica em sala de aula, foi adotado o conceito de tarefas encadeadas, desenvolvido por Ana Teberosky, que organiza uma sequência de atividades a serem propostas às crianças de forma a favorecer o necessário equilíbrio entre ações como observar, anotar, comentar, analisar a linguagem dos textos, e ações voltadas à produção, a partir das compreensões alcançadas (2020).
O Projeto pretende, com esse conjunto de estratégias e ações, constituir-se como espaço privilegiado onde as professoras reflitam sobre a importância de promover um discurso educativo que inclui a participação dos estudantes, tendo em vista a compreensão do objeto de conhecimento e os recursos simbólicos para representá-lo e comunicá-lo - começando pelos textos acadêmicos de História, sua estrutura e a linguagem característica da área. Assim, ao longo da formação as professoras entraram em contato com um repertório que lhes permitiram incorporar em suas práticas de leitura: (i) um olhar para estruturas e recursos linguísticos dos textos acadêmicos desse campo específico de conhecimento; (ii) uma "arquitetura" de planejamento didático, baseada na concepção de “tarefas encadeadas” que articulam leitura, escrita e oralidade.
O artigo, de autoria de Caroline Rezende, José Carlos Souza e Nicole Paulet Piedra está disponível no site da Revista Acadêmica de Educação Veras.
Caroline Rezende é pedagoga pela Faculdade de Educação de Osvaldo Cruz e mestranda em Educação pela Universidad Nacional de La Plata (Mestrado em Escrita e Alfabetização). Formadora de professores do Laboratório de Educação desde 2021. Contato: caroline@labedu.org.br
José Carlos Souza é formado em Letras pela Universidade São Judas Tadeu e mestre em Crítica Genética pelo programa de Letras (Língua e Literatura Francesa) da Universidade de São Paulo (USP). Professor em cursos de graduação e pós graduação do Instituto Vera Cruz. Formador de professores do Laboratório de Educação desde 2020. Contato: josecarlos@labedu.org.b
Nicole Paulet Piedra é cientista social e mestre em International Education Policy pela Universidade Harvard. Diretora de conteúdo do Laboratório de Educação. Contato: nicole@labedu.org.br