O bilhete viral de uma mãe e os discursos dominantes nas instituições educacionais | Labedu
Casos e Referências

O bilhete viral de uma mãe e os discursos dominantes nas instituições educacionais

24 de março de 2016

Há alguns dias viralizou na internet a resposta de uma mãe ao receber um recado da escola na agenda do filho. Vamos pensar um pouco sobre isso?

bilhete 1

Faz alguns dias que Kati recebeu esse recado da escola de seu filho, no Rio de Janeiro.

Incomodada com o direcionamento do pedido às “mamães”, Kati respondeu ao bilhete apontando que gostaria de ver o recado encaminhado aos “responsáveis”, lembrando que embora muitas vezes a “mãe se encarregue das tarefas domésticas e dos filhos, os ‘papais’ também são responsáveis e muitas crianças são criadas por outros membros da família”.

Essa mãe evidenciou como o discurso de muitas instituições educacionais ainda vem imbuído de preconceitos. Além de perpetuar uma visão de que mulher é necessariamente a principal figura incumbida das crianças, deixou de levar em conta as tantas outras configurações familiares possíveis, como compostas por pais homossexuais, crianças adotadas, pais solteiros entre uma infinidade de outras  que fazem parte do cenário contemporâneo. Várias redes, como a Uol, compartilharam o bilhete, valorizando a atitude crítica da mãe em relação a essa postura discriminatória e pouco inclusiva da escola.

Além disso, o comunicado traz outras marcas que merecem nossa atenção: as imagens estereotipadas e a linguagem infantilizada (“bilhetinho”). Será que é isso, efetivamente, que aproxima as produções relacionadas à infância de seu público? De fato, isso contribui para que a inteligência e a particularidade das crianças sejam consideradas? Ou estão subestimando a infância?

Também está presente no recado uma ideia de relação familiar no âmbito escolar: os profissionais da escola são chamados de “tios”. É inegável que as relações entre os alunos e os educadores têm aspectos afetivos. Porém, é importante demarcar que a função dos professores e coordenadores não é a de amar e sim de promover a aprendizagem. Chamá-los apenas pelo nome, sem apontá-los com algum termo que designe outro tipo de relação, é algo que ajuda a separar as importantes diferenças entre o âmbito escolar e o familiar.

É fundamental que atentemos sempre para os discursos que nos rodeiam e nos fazem perceber como natural algo que na verdade é uma escolha. Dessa maneira, podemos evitar contribuir com certas ideias com as quais não compactuamos e não queremos perpetuar.

Imagem da resposta da mãe ao bilhete retirada de Uol:

bilhete 2

 

 

Compartilhe
TEMAS

Posts Relacionados

Outros posts que podem interessar