1 de setembro de 2014
Compreender a incompletude é entender como educar na diversidade, na tolerância, na solidariedade, no compartilhamento, respeitando as individualidades e, principalmente, encarando que a vida é mais do que algo que podemos definir a priori.
A opção de ter um filho nos dias atuais é, mais do que nunca, uma grande escolha já que existe cada vez mais acesso à informação e à serviços de saúde.
Desse modo, a simples opção de não se prevenir já pode ser uma escolha. E como fruto dessa escolha vêm ao mundo essas crianças, tão indefesas e ao mesmo tempo com tanto potencial prontinho para ser desenvolvido com alguma ajuda desta rede de apoio constituída pelos pais, avós, irmãos, tios, padrinhos, vizinhos e todas as pessoas ao seu redor. Há um provérbio africano muito verdadeiro que diz: “É preciso de uma tribo inteira para educar uma criança”.
Mesmo as mulheres mais independentes logo descobrirão, ao ter um filho, que já não é possível ser tão “completa” a ponto de não necessitar de ajuda em alguns momentos e se surpreenderão em seguida por perceber que esse movimento é ou pode ser, quem diria, muito saudável para todos, sobretudo para criança. Sabemos que elas se desenvolvem desde sempre e que nessa missão precisam de muitos e diferentes estímulos. Acreditar que uma só pessoa, mesmo que muito bem intencionada e com alta disposição para estar junto desse pequeno ser, poderia sozinha ser a portadora de todas as habilidades para propiciar um desenvolvimento integral, seria, além de prepotência, uma grande injustiça com todos.
Pais e principalmente mães podem ter em diversos momentos a sensação de ter de suprir todas as necessidades dos filhos, o que é bastante natural. Vemos diariamente casos em que, em virtude dessa concepção, tantos pais esforçam-se para dar tudo o que a criança ou o adolescente deseja, visando evitar que os rebentos passem pela experiência da frustração. Ocorre no entanto que, mais ou menos tarde, todos perceberão que perder ou não conseguir algo faz parte da vida e que é preciso aprender a lidar com isso. Ora, como poderão aprender se não encontraram antes nenhuma oportunidade?
Vamos então cada vez mais refletir sobre a qualidade desse processo e a responsabilidade que a paternidade representa. Uma boa opção é compartilhar essas vivências com essa rede de apoio, pois considerar e incluir a opinião de outras pessoas pode auxiliar. Claro que devemos preservar os filtros necessários, já que a diversidade de personalidades e experiências de vida traz a diversidade de opiniões.
Que tal parar para pensar por exemplo por que irrita tanto a opinião daquele familiar sobre a educação do seu filho? Será que é isso realmente não é “da conta” dele? Você tem momentos frequentes de reflexão a esse respeito? Aquele familiar com quem não tem tanta afinidade poderia contribuir em alguma coisa para o desenvolvimento do seu filho? Em que medida está possibilitando a seu filho as situações que enfrentará em sua vida, buscando construir com ele um repertório de respostas adequadas?
Aceitar a própria incompletude pode ser um princípio de um caminho muito bonito e saudável de estreitamento de laços e relações, além de uma grande prova de amor em que a renúncia de sentimentos como o orgulho e antigas mágoas trabalha em favor dessas “pessoinhas” a quem tanto amamos.
Texto de Camila Fattori, psicóloga e psicopedagoga.