“Cachinhos Dourados e os Três Ursos”: um conto sobre crescimento | Labedu
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“Cachinhos Dourados e os Três Ursos”: um conto sobre crescimento

Ilustração por Ruth Sanderson.
18 de maio de 2015
Este artigo faz parte da série:

Contos de fadas e o desenvolvimento emocional das crianças

Quase todo mundo conhece a história de “Cachinhos Dourados e os Três Ursos”, mas você já parou para refletir sobre ela? Vamos discutir sobre alguns dos temas que essa famosa narrativa pode nos ajudar a explorar!

 

Como apresentado e justificado aqui, esse post dispara a série sobre os contos de fadas e, a partir da perspectiva do psicanalista Bruno Bettelheim, traz colocações sobre o potencial dessas histórias para o crescimento infantil.

Nesse post, é a história de Cachinhos Dourados e os Três Ursos que merecerá nosso olhar. Na narrativa, a menina está perdida na floresta e chega à casa dos três ursos. Não se sabe de onde ela está vindo e para onde ruma. Essa sensação de estar vagando perdida pode estar ligada à ideia de que a personagem não consegue encontrar a si mesma, desconhecendo suas origens e seus propósitos.

Todos nós estamos sempre construindo nossa identidade, tentando compreender que lugar ocupamos nas relações, de onde viemos e que caminhos estamos seguindo. A criança em crescimento também se depara com todas essas questões de forma muito intensa, pois está chegando ao mundo, procurando sua posição nele. Da mesma forma, Cachinhos Dourados é uma personagem que quer conhecer seu espaço.

Quando entra no lar dos três ursinhos não passa de uma estranha experimentando os diferentes papéis de uma família e tentando perceber onde pode se encaixar. Assim, ela explora a casa dos ursos, seus objetos, sua comida, seus cômodos e seus móveis. É uma criança descobrindo o mundo à sua volta, avidamente curiosa para compreender as relações familiares e sua inserção nelas.

Nesta busca, ela experimenta os papéis da mãe e do pai, mas não parece adequar-se a nenhum deles. Fica desconfortável em suas camas, não se ajeita em suas cadeiras e acha que suas comidas não estão em boa temperatura. Embora ainda não seja adulta, Cachinhos não é mais tão pequena – e sabe disso. Porém, numa tentativa de encontrar algo conhecido, ela se coloca no lugar do bebê urso. Considera que está tudo de seu gosto: a comida, a cadeira, a cama… mas a realidade impõe seus limites. A menina já está muito grande e, assim, quebra a cadeirinha do ursinho. Isso faz com que Cachinhos perceba que está crescendo e que necessita de mais espaço. Não pode mais ser o bebê da família. Terá que encontrar seu caminho e sua individualidade.

Este processo é algo muito difícil e exigente. Dar-se conta do próprio crescimento implica não só o orgulho de ser mais autônomo e capaz, mas também a necessidade de renunciar a certas comodidades e encarar novos limites. Muitas vezes a criança procura infantilizar-se, com medo de que seus avanços signifiquem a perda de alguns privilégios. Isso pode ocorrer especialmente se há um novo bebê na família rivalizando pela atenção dos adultos ou se os novos desafios que se apresentam para a criança em uma nova fase da vida são sentidos como ameaçadores. Cachinhos Dourados nos ajuda a recordar de que não é possível voltar atrás: é preciso ir em frente no desenvolvimento, mesmo que para seguir precisemos de um momento de pausa, experimentando outros lugares até encontrar o nosso.

Confira aqui a adaptação da história feita para a série “Contos de Fadas”.

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