“A Bela Adormecida”: o despertar contínuo para o desenvolvimento | Labedu
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“A Bela Adormecida”: o despertar contínuo para o desenvolvimento

"A Bela Adormecida" por Anna Brahms.
1 de fevereiro de 2016
Este artigo faz parte da série:

Contos de fadas e o desenvolvimento emocional das crianças

Em mais um post de nossa série sobre os contos de fadas, convidamos a todos para refletir sobre a história de “A Bela Adormecida”, um conto que explora como elaboramos as experiências e as vivências que nos fazem crescer.

 

Há muitas maneiras possíveis de compreender a famosa história de A Bela Adormecida, inclusive por ela ser narrada em diferentes versões, como as de Basile (1634), Perrault (1697), Grimm (1812) e a dos Estúdios Disney (1959). Entretanto, pensando nos elementos que estão constantemente presentes no conto e nas suas múltiplas interpretações, observa-se que ele é usualmente pensado como símbolo da passagem da infância para a juventude.

Neste post vamos abordar a narrativa por um outro ponto de vista, que considera a possibilidade dessa história abarcar mais momentos do amadurecimento além da transição para a adolescência. Vamos explorar juntos os seus elementos?

Princesa Aurora, filha de um rei e de uma rainha, é recebida ao mundo com grande entusiasmo. Seus pais lhe oferecem uma grande festa de batizado e convidam para a celebração os mais encantadores habitantes de seu reino. Para serem madrinhas da criança são convidadas três boas fadas e cada uma lhe oferece um dom especial. Em algumas versões do conto, as fadas serão auxiliares da princesa, ajudando a ela e a seus aliados no enfrentamento de percalços que surgem no desenrolar da história.

Confira aqui a adaptação da história feita para a série “Contos de Fadas”.

De modo semelhante às narrativas de Cinderela e Branca de Neve, em A Bela Adormecida estão presentes personagens que representam o que a criança percebe como “a mãe bondosa”. Para os pequenos, o cuidador principal que exerce a função materna, não é inicialmente compreendido como ser complexo, capaz de atos positivos e negativos. Ele é afetivamente separado dentro da criança como se fosse dois seres distintos, um bom e um mau. O bondoso é aquele que ama, protege, é generoso e carinhoso, oferecendo uma base fundamental para que a criança desenvolva recursos internos. As fadas da história são assim: estão sempre ao lado de Aurora e lhe oferecem dons.

A “mãe má”, invejosa, vingativa e odiosa também está sempre presente como contraponto. Em A Bela Adormecida ela é representada pela fada má ou bruxa que, ao ser deixada de fora da festa de batizado, lança sobre a princesa uma maldição: Aurora futuramente furará o dedo no fuso de uma roca e morrerá. Porém, este lado negativo materno tem sua função. Furar o dedo no fuso da roca é algo constantemente interpretado como a perda da inocência, a perda da virgindade ou o derramamento de sangue da mulher, ou seja, a menstruação. Se considerarmos que esses símbolos estão ligados à atitude de conhecer e ao amadurecimento, veremos que a “mãe má” na verdade aponta o destino inexorável de todos nós: teremos que sair de nosso conforto e crescer, ou seja, “matar” nossos lados menos desenvolvidos para que possamos nos transformar.

A morte, entretanto, só pode dar lugar a um novo nascimento quando existem bases sólidas sobre as quais seja possível construir algo novo. As fadas boas, assim, amenizam a maldição, substituindo o morrer por um sono profundo. O adormecimento pode representar o tempo necessário para se reorganizar internamente antes de dar um passo adiante. Às vezes é sentido como uma paralização ou até uma regressão temporária, um pouco como a imagem de uma onda que recua antes de crescer.

É então que surge o príncipe em nossa história, o único capaz de despertar a princesa e o reino de sua letargia. Em algumas versões ele precisa combater obstáculos perigosos para chegar à sua amada. Em outras, o destino é forte o suficiente para reconhecê-lo como autêntico salvador, minguando as barreiras do caminho.

Podemos pensar no príncipe pelo menos de duas maneiras. Na primeira ele representa as novas aquisições da garota, seus recém adquiridos recursos ou seja, tudo aquilo que ela aprendeu e desenvolveu e está deixando que emerja (desperte). Na segunda, ele é símbolo do diferente, do estranho, exigindo que a princesa acorde para novas percepções e para experiências de tolerância e alteridade. Ambas as possibilidades de interpretação indicam que houve um amadurecimento profundo vivido por Aurora. Isso pode se dar em diversos momentos da vida, nos quais nos transformamos e sintetizamos nossas vivências para dar um novo passo a caminho de nosso contínuo desenvolvimento.

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