“João e Maria”: aprender a cuidar de si | Labedu
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“João e Maria”: aprender a cuidar de si

“Hansel and Gretel” (2012), por Gwen Burns.
6 de julho de 2015
Este artigo faz parte da série:

Contos de fadas e o desenvolvimento emocional das crianças

Dando continuidade à série sobre contos, descubra aqui como a narrativa dos irmãos “João e Maria” pode ajudar as crianças a lidarem com a percepção de que nem todos os momentos da vida são prazerosos e de que os limites são importantes para conseguirmos nossa independência.

 

A conhecida história de “João e Maria” tem início quando os dois irmãos que dão nome ao conto não podem mais ser alimentados por seus pais muito pobres. Então as crianças descobrem que, por conta dessa difícil situação, precisarão ser abandonadas na floresta. O angustiante começo dessa narrativa marca um momento muito importante do desenvolvimento: aquele em que a criança percebe que os pais são falíveis e imperfeitos, sendo incapazes de suprir todas as suas necessidades. Tal descoberta pode gerar a sensação de estar sendo abandonado, por não haver mais o sentimento de que o cuidado dos pais é tudo o que é preciso para se sentir completo. Esse momento de frustração é muito importante, pois motiva a criança a utilizar seus próprios recursos para explorar o mundo à procura de novas formas de satisfazer suas necessidades e desejos.

Ao mesmo tempo, essa primeira vivência rumo à independência é também um pouco assustadora, pois a criança ainda não conhece bem suas capacidades e nem sabe o que encontrará pela frente. Na história, essa insegurança é representada pela misteriosa floresta, na qual os dois irmãos sentem-se perdidos. Eles buscam em vão deixar pistas para voltar para o lugar de onde vieram, mas isso não é mais possível: já se desiludiram a respeito da perfeição de seus pais.

Assim, surge a busca por algo novo, capaz de eliminar todas as falhas e de satisfazer todos os desejos que foram insuficientemente supridos pelos genitores. Algo parecido com a apetitosa casa de doces, cheia de guloseimas maravilhosas, coloridas e açucaradas… Há uma verdadeira esperança de que os prazeres do mundo sejam ilimitados.

Entretanto, a vida não é apenas satisfação e a voracidade exagerada não é um caminho equilibrado para conseguir o que se quer. Desse modo, ao devorar impulsivamente a casa de doces, as crianças pagam um alto preço: são aprisionadas por sua habitante, uma bruxa má. Esta maléfica personagem pode representar os limites e as frustrações que fazem parte de qualquer experiência e que podem até adquirir a forma de consequências mais sérias quando somos precipitados.

No caso de João e Maria, que foram gulosos e ambiciosos demais, a consequência é a necessidade de aprender a se controlar, parando de comer. Caso continuem insistindo num comportamento imprudente, poderão ser devorados pela bruxa, que os quer gordinhos e suculentos.

A partir de suas próprias forças internas, e da ajuda que oferecem um ao outro, os irmãos saem vitoriosos da provação pela qual passam e conseguem retornar à sua casa, onde não se sentem mais abandonados. Descobrem que todos nós – adultos e crianças, pais e filhos – possuímos limites e virtudes, prazer e dor.

E você? Pensa de outra forma sobre essa história? Consegue localizar outros elementos nela? Conte-nos por meio dos comentários!

Confira aqui a adaptação da história feita para a série “Contos de Fadas”.

Este post foi escrito com base no livro “Fadas no Divã”, de Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso.

Assim como esta que apresentamos aqui há várias maneiras de interpretar os contos tradicionais. No caso desta história indicamos também o artigo “João e Maria – as bruxas queimadas gozam de boa saúde”, escrito por Germán Machado, que traz novos olhares sobre ela.

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