12 de junho de 2017
Que tal falarmos sobre esse tema tão recorrente e que atravessa o desenvolvimento de crianças das mais variadas idades?
Antes de começarmos essa conversa, é preciso esclarecer do que trata o termo em questão, para que consigamos elucidá-lo da melhor maneira possível. Erotização precoce nada mais é do que a exposição prematura de conteúdos e estímulos a indivíduos que ainda não têm maturidade suficiente para compreendê-los e elaborá-los.
Pois bem, ilustremos com uma situação relativamente comum nos dias de hoje: se um menino ou uma menina, ainda pequenos, são apresentados a uma cena de sexo explícito, seja ela televisionada ou assistida ao vivo, muito provavelmente eles, além de não entenderem completamente do que se trata, serão invadidos por uma gama de sentimentos e fantasias a respeito do ato, que pode gerar desde uma excitação exacerbada que provoca ansiedade, até sentir medo por acharem que se trata de algo violento, que machuca, gera dor. Em ambas as situações – ou em quaisquer outras possíveis impressões que os pequenos possam vir a ter em relação ao que viram – o impacto dessa apresentação tão adiantada em suas vidas acaba por trazer interpretações equivocadas, deixando marcas importantes nesse processo.
Não é raro vermos adultos incentivando as crianças, seja com perguntas ou como forma de entretenimento, a ter comportamentos que fazem parte do mundo maduro, como namoros e beijos na boca. Uma linha bastante tênue passa por esse território, que se justifica tratando do assunto como uma simples brincadeira. O mesmo pode se dar em cenários que parecem ainda mais inofensivos, como quando estimulamos que cantem e dancem utilizando-se de gestos impróprios, usem maquiagens, salto alto e se vistam como “gente grande”.
Isso não quer dizer que as crianças não possam ter curiosidade a respeito do mundo adulto e queiram satisfazer esse interesse pelo que observam, por meio da interpretação lúdica desses papeis. Mas é fundamental que tenham clareza dos limites que existem entre o brincar e a realidade, o que pode ser compartilhado e o que invade os limites do outro. Esse norte será dado sempre pelos adultos, por isso sua participação decisiva nessa condução.
É claro que nem sempre é simples fazer esse tipo de discernimento que pede intervenções cotidianas, mas se entendermos que tudo o que perpassa pela erotização precoce desvia as crianças desse momento tão importante de ser vivido em plenitude como o da infância, talvez nossas mediações se construam com maior qualidade. Ao pular essa etapa, estamos privando que elas se entreguem à amizade de forma autêntica e espontânea, sendo capazes de se alimentar integralmente dessa primeira interação fora de seu círculo familiar; e que é tão fundamental para que desenvolvam noções de respeito, companheirismo, carinho e atenção com o próximo. Esse assunto é sério, pois, sem esse cuidado, o brincar fica comprometido, bem como as interações com o outro e o mundo ao seu redor. E isso acaba interferindo, inevitavelmente, no seu desenvolvimento pleno e saudável não só psiquicamente falando, como também no âmbito emocional, físico e social…
Segundo Nejm, diretor de Prevenção e Atendimento da SaferNet Brasil, para o projeto Criança e Consumo: “A criança tem de ser esclarecida sobre seu próprio corpo, sobre cada etapa do seu desenvolvimento. Uma criança que não tem orientação sobre sexualidade e entra na internet sem o devido esclarecimento dos pais vai lidar com propostas, sites, imagens indevidos. Ela pode se tornar uma presa fácil porque sentirá curiosidade e não saberá o tamanho do risco que está correndo. O diálogo que ela não tem em casa, vai ter com um estranho, que pode se passar por uma criança ou adolescente, mas que, na verdade, é um adulto com distúrbios e más intenções. Por isso, quanto mais esse debate existir, mais protegida a criança vai estar quando navegar pela internet.”
Nesse sentido, é essencial que possamos garantir espaços que respeitem o tempo das crianças, deixando-as livres para brincar, se sujar, interagir, aprender, se expressar, desde que estejamos sempre atentos ao que está ao seu redor. Observar o que dizem, manifestam enquanto desejo, reproduzem do que veem por aí, é uma forma de zelo que não ser deixada de lado se queremos assegurar que tenham seus direitos reservados enquanto indivíduos em processo de maturação.
Que tal falarmos sobre esse tema tão recorrente e que atravessa o desenvolvimento de crianças das mais variadas idades?