19 de setembro de 2018
A quem beneficia o alto desempenho das crianças na escola?
É preciso colocar em debate a demanda de famílias e instituições de ensino pelo alto rendimento dos alunos. Afinal, será mesmo que tal exigência está diretamente relacionada com o desenvolvimento infantil pleno e com a ampliação de oportunidades de aprendizagem?
O sociólogo e coordenador pedagógico José Ruy Lozano explorou esse tema em artigo para a Folha de S. Paulo, trazendo elementos interessantes para a discussão. Conforme aponta, há certas iniciativas bem intencionadas, que visam enriquecer o repertório cultural das crianças e jovens, oferecendo a eles mais referências e instrumentos para estar no mundo.
Entretanto, há uma pressão excessiva que é colocada a partir do momento em que as expectativas sobre os resultados escolares se tornam tão elevadas. Isso acaba criando situações opressivas, inviabilizando que alunos de diferentes idades possam ter alguma flexibilidade no ritmo e na forma como aprendem. Uma educação que deveria ser para todos passa a ser para os poucos que conseguem cumprir certas metas. A relação com o conhecimento passa a ser normatizada.
E a quem isso beneficia? Certamente não às crianças e aos adolescentes que estão se desenvolvendo e tentando construir suas hipóteses e perspectivas sobre o mundo à sua volta. Lozano aponta os interesses mercadológicos de algumas escolas privadas e a influência de políticas de distribuição de recursos baseadas na avaliação da produtividade de professores da rede pública por meio de resultados dos alunos. As famílias e os estudantes são vistos como consumidores e a educação como um bem, quando na verdade trata-se de um direito a ser assegurado para os cidadãos em desenvolvimento.
Além disso, as atividades escolares passam a ser atravessadas por questões de mercado e de empreendedorismo. As instituições de ensino passam a ser locais de preparação para o mundo do trabalho, ao invés de pontos de desenvolvimento integral na infância, que deve envolver a produção de conhecimento, a ampliação de repertório, a experimentação e a convivência comunitária.
Estamos de acordo com Lozano quando diz: “Está na hora de repensar algumas práticas escolares, especialmente aquelas que visam atender a ânsia do mercado, a busca por sucesso a qualquer preço, à custa dos tempos e espaços que são próprios da infância e da juventude.” Afinal, infância não é carreira e filho não é troféu.