20 de maio de 2015
Duas situações que mostram como às vezes o olhar do adulto é cego para ver o que pensam e fazem as crianças.
Dois textos que circularam na internet recentemente chamam a atenção por um dos aspectos que abordam: como muitas vezes os adultos partem de sua posição e desconsideram o que a criança está fazendo, pensando ou realizando a partir do ponto de vista dela.
Na primeira situação, descrita em uma crônica escrita por Fabrício Carpinejar, chamada “O poder do sacrifício”, duas crianças querem descobrir como funciona o cuco do antigo relógio precioso da casa. Nessa empreitada acabam por quebrar o passarinho e um dos irmãos tenta consertá-lo, o que obviamente é descoberto assim que passam as horas.
Mas o que não se sabia era o quanto essa tentativa tinha sido feita com esmero. Nas palavras do autor:
A mãe não aprofundou o entendimento. Não foi justa. Não estudou a natureza do erro. Rodrigo escolheu seu melhor brinquedo, seu bonequinho favorito para substituir o cuco. Poderia pegar qualquer um menos importante. Mostrou-se desolado com a desobediência e buscou o que mais gostava no quarto. É uma sutileza que faz a maior diferença. Dependendo do que se é alcançado e feito, prova-se a pureza do arrependimento.
Em outra situação, apresentada em um artigo escrito por Chaunie Brusie, intitulado “O que aprendi no pior dia da minha vida como mãe”, ela conta como reagiu ao acordar atrasada e ir chamar sua filha para a escola, não encontrá-la em sua cama e buscá-la por toda parte, acabando por encontrá-la escondida no escritório. Pelo estresse e nervoso do momento, ficou muito brava e acabou gritando com a menina. Depois, para sua tristeza, descobriu que a pequena estava escondida fazendo um cartão surpresa para a mãe (ela!), para presenteá-la naquele mesmo dia, já que era seu aniversário. Chaunie compartilha no texto a angústia do momento e como foi difícil saber o que fazer para reparar o dano. De alguma forma ela conseguiu apaziguar parcialmente seus sentimentos…
Mas o que queríamos chamar a atenção é para a possibilidade de nos darmos chances de ver pelos olhos das crianças. Não podemos nos esquecer que há um pensamento inteligente e que ouvi-las e compreendê-las pode fazer toda a diferença em algumas situações.
Isso não significa que as crianças possam tudo e nem que tenham sempre razão. Porém, a curvatura da vara precisa encontrar um equilíbrio. E isso passa pela consideração de suas posições como sujeitos ativos em todos os sentidos.