O que o design urbano tem a ver com a prevenção do crime?
Casos e Referências

O que o design urbano tem a ver com a prevenção do crime?

Imagem retirada de Unsplash
7 de maio de 2019

A arquitetura e o planejamento de uma cidade podem contribuir para a criação de um ambiente mais seguro e convidativo.

Em tempos como o que vivemos, a criminalidade e a violência têm feito cada vez mais parte do dia a dia nas cidades. Discussões a respeito de alternativas possíveis para esse problema costumam apontar para o aumento da intervenção policial como algo que supostamente garantiria a segurança da população. O que acontece é que, embora isso possa se dar em certa medida, por outro lado existem outras questões envolvidas, um tanto complexas, e que precisam ser olhadas e incluídas nesse debate, como as desigualdades e a apropriação dos espaços públicos.

Como relata matéria publicada pelo Nexo, a jornalista e ativista Jane Jacobs defendia, já na década de 60, que ruas movimentadas e comunidades ativas funcionam por si próprias como observatórios urbanos. Um uso misto dos espaços, que abriguem ao mesmo tempo áreas de lazer, comércio e habitação, por exemplo, promovem, não apenas a diversidade, mas a sua ocupação permanente. Em seu livro Vida e Morte das Cidades Americanas, ela dizia: “As cidades têm condições de oferecer algo a todos apenas porque, e apenas quando, são criadas por todos”.

A partir daí especialistas passaram a olhar para as causas desse fenômeno de forma multidisciplinar, envolvendo questões políticas, ambientais, psíquicas e comportamentais em suas análises. O arquiteto Oscar Newman foi um deles, entendendo que os habitantes de um determinado local deveriam ser protagonistas na garantia de sua própria segurança. Levantou, assim, 4 elementos do Design que, individualmente ou em conjunto contribuem para esse fim:

Territorialidade – o engajamento de pessoas no cuidado com o seu espaço pode ser possível se estabelecidas as devidas barreiras, físicas ou simbólicas, do contorno dessa propriedade.

Monitoramento – certos projetos arquitetônicos, incluindo janelas, entradas e espaços que se comuniquem, dão maior visibilidade ao que está acontecendo ao redor, permitindo que os guardem e vigiem.

Imagem e Meio – o desenho dos prédios podem influenciar na percepção que se tem do espaço em que se vive, facilitando inclusive a sua limpeza e manutenção.

Combinação Geográfica – lugares próximos podem ajudar na proteção e segurança de uma área conjunta.

Aplicação prática pelo mundo

Na África do Sul esses conceitos fazem parte de uma estratégia nacional de combate ao crime desde a década de 80. Em Khayelitsha, área metropolitana da Cidade do Cabo, a taxa de homicídios caiu 39% entre 2005 e 2012. Dentre as medidas incluídas nessa missão, destacam-se: melhorias na iluminação pública, construções esteticamente atraentes, prédios com boa visão de seus arredores e elaboração de unidades em que as pessoas morem e trabalhem, sem ter de se deslocar diariamente.

No Rio de Janeiro, planos traçados pela Rio on Watch também vêm nos mostrando que existe sentido no convite à participação da vida em comunidade. A limpeza e arborização das praças, os reparos de iluminação das ruas, o fortalecimento dos vínculos entre vizinhos e a promoção de atividades culturais nessas regiões têm funcionado como medidas preventivas da violência como um todo e produzido uma relação muito mais íntima entre os moradores da comunidade.

Incentivar as crianças, desde cedo, a interagirem com os espaços públicos é também chamá-las a ocupar as cidades, reconhecendo o que elas pensam sobre os locais por onde passam e o que têm a propor como mudanças para melhorar sua casa, sua rua, seu bairro, sua cidade.

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