7 de março de 2016
Novos indicadores demonstram que as mulheres trabalham mais horas semanais do que os homens, e mais ainda quando são casadas. Até onde vai e como podemos reverter essa desigualdade que perpetua em nosso país?
Os homens trabalham ao longo de uma semana em média 41 horas e 36 minutos. No mesmo período, as mulheres trabalham cerca de 35 horas fora de casa e outras 21 horas e 12 minutos em afazeres domésticos. A diferença é considerável!
Nos últimos dez anos, a formalização nas jornadas de trabalho fez com que a média semanal na carga horária dos homens caísse de 44 para 41 horas e 36 minutos. Porém, o tempo resultante dessa diferença não se converteu em tempo de atuação nas atividades de casa. Além disso, a crise econômica que vivemos atualmente tem gerado uma leva significativa de desemprego, mas, no caso de boa parte dos homens, isso também não aumenta suas responsabilidades nos afazeres domésticos, mesmo quando as mulheres se mantêm no mercado de trabalho.
O casamento também tende a onerar ainda mais a mulher: enquanto sua carga de trabalho, considerando as demandas domésticas aumenta, a dos homens é reduzida quase que pela metade.
Vale considerar, ainda, que a mulher continua sendo remunerada cerca de 26% a menos do que um homem com a mesma formação e função, segundo dados de 2014.
Todas essas informações foram apresentadas em duas reportagens recentes publicadas pelo jornal O Globo e nos permite reiterar o que já sabemos: a desigualdade de gênero no Brasil é um fato e, como tal, um tema que merece nossas preocupações como foco na educação das crianças.
Segundo a especialista em economia de gênero do Insper, Regina Madalozzo, o serviço doméstico é considerado uma tarefa feminina, um exemplo disso está na fala das próprias mulheres, quando se referem a seus companheiros: “ele ajuda em casa”, como se não fosse também do homem essa obrigação. A especialista acredita que “apesar de a mulher ter conquistado seu lugar no mercado de trabalho, ela ainda não se libertou do trabalho doméstico. Isso só pode mudar via educação. O trabalho doméstico é responsabilidade de todos.”
Tamanha desigualdade de gênero é um traço da cultura brasileira, assim como outras desigualdades marcadamente visíveis em nosso dia a dia. E mudar aspectos culturais não é mesmo nada fácil, mas viável pela educação, transformando a perspectiva das futuras gerações de jovens e adultos.
Oportunizar que meninos e meninas atuem igualmente em algumas tarefas caseiras, como já sugerimos aqui, favorece inúmeras aprendizagens: os cuidados que uma casa e a rotina da família demandam são responsabilidades de todos os que dela fazem parte; dividir tarefas é algo favorável, para não sobrecarregar o outro; não existem tarefas em casa que só possam ser realizadas pelo homem ou pela mulher, ou seja, todos podem fazer de tudo para contribuir para a organização diária.
As crianças, como insistimos por aqui, aprendem muito por meio dos modelos com os quais convivem. Assim, ainda que a mulher demande de seus filhos, meninos e meninas, a participação em determinadas tarefas domésticas, o que significa para eles ver a figura masculina representada pelo pai, por exemplo, assistindo à TV enquanto os demais trabalham? O pai tem então um papel fundamental nessas aprendizagens das crianças: se ele também assume responsabilidades domésticas atua com um modelo de extrema importância para os meninos e igualmente para as meninas.
Para ler as reportagens na íntegra, acesse aqui e aqui.