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“Escola sem Partido”: impactos na aprendizagem escolar das crianças

27 de julho de 2016

Saiba mais aqui sobre o que é a proposta  “Escola Sem Partido” e que tipo de mudanças ela pode gerar na educação das crianças.

Para quem ainda não conhece, o “Escola sem Partido” é um projeto de lei bastante polêmico que está em tramitação no poder legislativo de diferentes estados e municípios do Brasil.  Segundo seus criadores e apoiadores, a proposta tem o objetivo de fazer da escola um local “descontaminado” de ideologias políticas. Essa neutralidade seria uma forma de respeitar os estudantes e suas famílias, tornando o espaço escolar um local despido de imposições e doutrinas.

Entretanto, será que é possível falar em uma educação sem viés político? Isso é de fato algo benéfico para o desenvolvimento das crianças? Inicialmente, pensemos em que momentos a perspectiva política se revela nas escolas. Antes mesmo de considerar conteúdos de aulas, esse ponto de vista se revela na organização do espaço e do tempo.

Existem instituições de ensino mais preocupadas com a manutenção do controle dos adultos sobre as crianças e que reforçam a hierarquia nas relações. Há muitas maneiras de isso se manifestar no dia a dia. Por exemplo: salas que ficam trancadas ou possuem câmeras de vigília; a presença constante de adultos monitorando os ambientes ocupados pelas crianças; as salas de aula arrumadas de forma que o professor possa sempre observar o que cada aluno está fazendo; as relações adulto-criança marcadas por maior distanciamento e reguladas principalmente por situações de comando e obediência.

Da mesma maneira, há outras escolas que procuram criar relações mais horizontais entre os estudantes e os educadores, com um olhar mais voltado para o desenvolvimento da autonomia das crianças. Muitas vezes esses locais possuem espaços por onde os alunos circulam mais livremente; há atividades simples em que os estudantes são deixados sozinhos e devem ter capacidade de se organizar e trabalhar sem supervisão de um adulto; as salas são organizadas pensando nas relações das crianças com a aprendizagem e com os outros alunos; as relações entre adulto e criança são marcadas por situações de diálogo.

Olhando apenas para esses elementos que não estão diretamente ligados aos conteúdos de aula, já é possível perceber que qualquer decisão aparentemente simples de organização do cotidiano de uma escola engloba visões e ideologias sobre o que é educar e sobre os papéis a serem assumidos por crianças e adultos nesse contexto. Essas também são consideradas decisões de ordem política, já que dizem respeito à gestão da escola, aos processos de tomada de decisões e às situações de ensino e de aprendizagem. Dessa forma,  considerando o modo como a escola se organiza e alguns dos princípios em que se pauta, é impossível fugir de fazer escolhas que impactem na formação dos estudantes.

Considerando essa perspectiva de que a postura política está sempre presente de múltiplas maneiras em qualquer projeto educacional, o “Escola Sem Partido” criaria um contexto de alienação e artificialidade nas relações, impedindo aprofundamentos que trouxessem diferentes opiniões e argumentos.  Além disso, colocaria os professores numa situação delicada, uma vez que a maneira de abordar os conteúdos está sempre embutida de perspectivas políticas. Ao falar de acontecimentos da história mundial, por exemplo, estamos sempre fazendo uma interpretação dos fatos, ou seja, marcando uma posição. O mesmo acontece com outras áreas do conhecimento. É impossível que o educador cumpra esse acordo de neutralidade, pois até a busca por não assumir opinião é uma escolha política.

Esse cerceamento na liberdade de ensino do professor gera também grandes lacunas na aprendizagem dos alunos que passam a assumir uma postura menos crítica sobre o que aprendem. A possibilidade de questionar, pensar sobre os diferentes pontos de vista inerentes às questões estudadas, concordar, discordar e discutir fazem parte de uma educação democrática, preocupada em criar cidadãos comprometidos com a sociedade em que vivem.

Nós, do Toda Criança Pode Aprender, consideramos que a educação é político-ideológica em essência e, desta forma, é impossível escapar a esta dimensão. Além disso, é desejável que os espaços de aprendizagem deem bases para que os educandos consigam pensar de forma crítica e criativa, possibilitando que encontrem sua própria forma de se colocar no mundo. E você? O que pensa sobre isso? Conte para nós nos comentários!

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