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O papel da família na inclusão da criança surda

Imagem retirada de Pixabay
30 de agosto de 2017

Nesse post traremos algumas questões para refletir a respeito de como se dá a construção da linguagem, bem como se inserem na cultura os pequenos que por alguma razão perderam a capacidade auditiva antes ou depois de nascer.

Ainda nos dias de hoje, existe uma tendência de pensarmos a surdez enquanto uma deficiência que, de alguma forma, pode e deve fazer com que as pessoas surdas tenham que se adaptar ao mundo dos ouvintes. O surgimento de implantes, por exemplo, e o ensino da leitura e da escrita são alguns recursos que costumam fazer parte do cotidiano de uma criança em idade escolar e que está se alfabetizando junto aos demais colegas de classe. Mas o que acontece antes dessa fase? Como se comunicam os pequenos com o mundo ao seu redor?

Quando a perda auditiva é leve e a criança facilmente se adapta aos aparelhos que amplificam a chegada dos sons em seus ouvidos, as chances de aprender a falar parecem ser maiores do que daquelas pessoas com uma deficiência mais severa. Nos casos mais graves, a intensidade da voz humana não é percebida pelo sujeito, o que torna muito o desenvolvimento da fala muito mais complexo, pois não há um referencial que guie nesse sentido. O diagnóstico, além disso, por vezes demora a ser feito, mas é fundamental que os adultos responsáveis pela criança prestem atenção a sinais como o atraso em pronunciar as primeiras palavras ou não reagir diante de estímulos sonoros, que podem denunciar algum grau de deficiência auditiva.

As relações afetivas com o diagnóstico de surdez carregam um bocado de singularidades, mas fato é que muitos pais e responsáveis costumam tentar investir numa aproximação da criança com a língua portuguesa (ou de outras nacionalidades, no caso dos demais países) a qualquer custo. É preciso entender, porém, que estimular a comunicação por meio de uma língua que é pouco compreendida pela criança, acaba comprometendo o seu desenvolvimento em muitos sentidos. Ela não só terá uma assimilação empobrecida da sua realidade, como encontrará enormes dificuldades em se relacionar com o outro. Isso pode gerar na criança um estado de alienação que pode implicar numa defasagem cognitiva, comportamental, psíquica etc.

A língua de sinais, que utiliza de gestos e expressões faciais/corporais, abarca uma estrutura que permite que ideias, objetos e sentimentos possam ser facilmente manifestados e aprendidos via percepção visual. Dessa forma, as coisas ganham representação e constroem uma ponte entre o mundo interno e externo dos indivíduos.

Estudiosos dedicados à questão da surdez afirmam que é fundamental que uma criança desenvolva o quanto antes o domínio sobre uma língua, pois somente dessa forma ela será capaz de se inserir na cultura, beneficiando-se dos conhecimentos e informações que a todo o momento chegam até ela. E é muito importante que isso seja feito de maneira clara e acessível, pois de outra forma ela fica à mercê de sua própria vida.

A sociedade, portanto, tem um papel fundamental em garantir essas trocas e inserir as pessoas em suas mais diversas complexidades. A família será a primeira grande parcela de mundo com a qual a criança irá interagir nos primeiros anos de sua vida, sendo capaz de fornecer as bases para que essa comunicação possa se dar de maneira satisfatória, atendendo necessidades, dando contorno a emoções, limites, conhecimentos… Isso tudo é fundamental para que a criança se organize e conheça o ambiente que a cerca. Para isso, os adultos também têm de se adaptar à sua realidade, visto que ela precisará de ajuda nesse processo. Quando pais ou cuidadores aprendem a língua de sinais e a transmitem desde cedo aos pequenos, a qualidade dos vínculos, das interações e da forma como eles conseguirão circular pelo mundo compartilhado será de muito maior qualidade. O mesmo pode ser considerado em relação aos profissionais da educação, que igualmente podem ampliar o potencial de interação das crianças e de suas aprendizagens dominando essa língua.

Pensando nessa problemática que acabamos de enfatizar, fica uma questão: será que é a criança com deficiência que tem de se adaptar à comunidade ou é esta que tem de estar bem preparada para recebê-la?

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