24 de julho de 2017
Afinal, uma criança sozinha em local público é problema meu?
Dentre as diversas transformações que o capitalismo e a urbanização trouxeram à sociedade estão a individualização e privatização cada vez mais ampla dos espaços e das funções sociais. Perdemos pouco a pouco as vivências coletivas e os espaços públicos, que fortalecem os laços de responsabilidade e de cuidado com pessoas com quem não havia vínculo direto, mas sim comunitário.
A UNICEF realizou uma experiência filmada em que Anano, uma menina de 6 anos, fica desacompanhada de um adulto em dois locais públicos: em uma rua e em um restaurante em Tblisi, na Geórgia. Porém, Anano é deixada nesses lugares em duas situações diferentes: na primeira está bem vestida e limpa, enquanto que na segunda seu rosto e suas roupas estão sujos.
Quando aparece asseada e arrumada, os adultos à sua volta preocupam-se com ela, recebem-na com carinho e tentam ajudá-la. Já quando está com aspecto maltrapilho, é ignorada pelos passantes e no restaurante os clientes incomodam-se com sua presença, pedindo que ela seja retirada do local. A experiência foi interrompida no momento em que Anano começou a ficar triste e chateada com as reações das pessoas.
Vivemos uma lógica de desresponsabilização pelo que não nos atinge diretamente: “o lixo que não joguei no chão não é problema meu”; “os serviços públicos que não utilizo cotidianamente não precisam de meu investimento”; “a criança que não é minha, não é de meu interesse”. Essa postura agrava-se quando a desigualdade social estratifica as pessoas em categorias. Assim, o outro não é tomado como ser humano semelhante, mas como tão radicalmente diferente que nem é reconhecido enquanto sujeito de direitos.
Isso é mostrado no vídeo quando ele chama a atenção para o quanto somos cegados pela pobreza, a ponto de podermos momentaneamente esquecer que estamos diante de uma criança. Por que consideramos normal vê-la sozinha na rua quando está mal vestida e suja? Será que o fato de ela não possuir condições socioeconômicas favoráveis nos desincumbe de seus cuidados?
Todos os adultos são educadores, com o papel de se perceber cotidianamente como referência e zelar para que todas as crianças tenham oportunidade de viver a infância plenamente.