15 de março de 2017
Você já parou para pensar por que essas figuras sobrenaturais, corajosas, responsáveis e altruístas despertam tamanho interesse nas crianças? Que tal pensarmos sobre esse fenômeno nesse post?
A imagem de uma criança correndo pela sala com um lençol amarrado nas costas ou de outra usando uma colher de pau como varinha mágica não deve lhe parecer uma cena muito distante do dia a dia, não é? Tais brincadeiras também podem estar ligadas a vivências importantes para a infância em muitos níveis.
Assim como nos contos de fadas, muitas histórias falam sobre assuntos que se passam com a maioria das crianças, como se sentir sozinha, a dificuldade de crescer, de lidar com a mentira, entre tantas outras questões que podem ser um bastante angustiantes. Por isso mesmo as crianças buscam apoio em personagens e narrativas que abordem esses temas, procurando alguma resolução para seus conflitos. A fim de encontrarem uma saída possível – mesmo que ainda imaginada ou realizada com um passe de mágica- lançam seus dilemas na esfera da fantasia.
Os desafios se impõem desde muito cedo na vida de um ser humano, e ele começará a travar batalhas internas com seus medos, inseguranças, dificuldades, conflitos etc. As figuras de super-heróis, fadas mágicas ou deuses mitológicos podem surgir como modelos seguros de identificação, com os quais a criança facilmente se encanta e admira por conta de suas qualidades e potências, espelhando-se nesse ideal de força, justiça e amor ao próximo, que são virtudes valorizadas socialmente e moralmente ansiadas.
J.R.R. Tolkien, renomado escritor de origem africana, autor de O Senhor dos Anéis e várias outras obras de fantasia, comentou certa vez que uma boa narrativa infantil possui as seguintes facetas: fantasia, recuperação de algum desespero profundo, escape de algum perigo terrível do qual o herói poderá se desvencilhar e, acima de tudo, consolo. Desta forma, acredita-se que para que estas histórias venham a trazer algo de construtivo à psique infantil, convém que ela possua um final feliz. Sem essas conclusões encorajadoras, a criança se sentirá sem esperança verdadeira que desamarre os desesperos que circundam a sua vida. Tradicionalmente, o protagonista será recompensado e o mal vencido, recebendo sua sorte merecida e satisfazendo a necessidade infantil de que a justiça seja feita. A figura dos vilões também é imprescindível no que toca a possibilidade da criança encontrar vazão para sentimentos vividos por qualquer ser humano, como a raiva, integrando o bem e o mal que nela habitam.
Fantasia e realidade se combinam o tempo todo nessas experiências de ouvir uma trama audaciosa e representar tais papeis numa brincadeira. A criança pode, por exemplo, passar a se sentir independente e segura para poder resolver seus embates ou viver uma onipotência constituinte da identidade de cada pessoa, que a partir daí terá necessidades e desejos próprios. Essa sensação subjetiva de ser poderoso diz um tanto do quanto almejamos ser amados, importantes, necessários – afetos que dialogam o tempo todo com enigmas que nos estruturam ao longo da vida, como “de onde vim?”, “a que sirvo?”, “qual o sentido da vida?”, e por aí vai. Tudo isso dará base para que os pequenos consigam lidar com seus monstros e fantasmas, construindo pouco a pouco a própria capacidade de se erguer nos momentos de maior desespero e desamparo, lembrando-se de olhar para dentro de si: lá estará o herói.
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