9 de maio de 2018
Dois casos recentes que envolveram a morte de estudantes na capital paulista causaram enorme comoção nas redes sociais, chamando atenção para a necessidade de debatermos sobre esse tema tão urgente.
Um dos colégios mais tradicionais da cidade de São Paulo presenciou, em um intervalo de mais ou menos 10 dias entre um acontecimento e outro, dois casos de suicídio entre seus alunos do ensino médio. Além desses, outros eventos do tipo ocorreram desde 2017, assustando professores, alunos e familiares, que estão se mobilizando de diferentes formas para lidar com o luto e entender o que se passa nesse contexto, buscando caminhos para a prevenção de novos casos.
Segundo o Ministério da Saúde, os casos de suicídio no Brasil têm crescido muito nos últimos tempos. Em 2015, foram 722 mortes de adolescentes na faixa entre 15 e 19 anos de idade. Embora seja difícil compreender o que, de fato, os levou a tirar a própria vida, este vem sendo um fenômeno que vem ocorrendo especialmente dentre os jovens e precisa ser discutido nos mais diversos espaços.
É comum ouvir por aí que “a pessoa que faz isso tem a cabeça fraca”, ou então que “foi um jeito de chamar atenção” ou “como pôde, se tinha uma vida tão boa?”, sendo estas, talvez, maneiras de nos distanciarmos ou de nos protegermos de um sofrimento que esbarra em questões muito particulares de cada pessoa.
Questionar as formas como temos vivido, individual e/ou coletivamente, pode nos fornecer ferramentas valiosas para refletir sobre o suicídio na adolescência enquanto um fenômeno permeado pelo nosso momento histórico e social. Sendo assim, há algo dessas situações que diz respeito a todos e que merece atenção enquanto questão de saúde pública.
A adolescência é reconhecidamente uma fase complexa, onde não se é mais uma criança, mas tampouco um adulto propriamente dito. Nesse momento da vida, personalidade está sendo construída, entre altos e baixos, e os jovens têm que lidar com mudanças intensas, sejam elas corporais, próprias da puberdade, mas também no que diz respeito à sexualidade, à busca por uma identidade, à tão almejada independência, à escolha por uma carreira, à diferenciação dos pais etc. E nesse caminho nem sempre existe um espaço possível para a expressão de tamanhos sentimentos e para a elaboração de tudo isso, parecendo haver um excesso de cobranças em relação à maturidade, que ainda é latente e precária em muitos sentidos. Crescer não é fácil e pode ser, muitas vezes, um processo solitário. É preciso ter um olhar bastante cuidadoso que acompanhe os adolescentes nesse percurso, pois cada um o experimentará de uma forma única!
Que grito é esse que está sendo dado e não estamos sendo capazes de ouvir? Estarmos abertos à escuta, à troca, ao não-julgamento, à empatia, sempre respeitando opiniões, queixas e valores podem ser atitudes que favorecem a criação de canais de comunicação muito ricos para dar vazão a essas vidas que pulsam, as ajudando a produzir novos significados. Convidar profissionais da saúde, familiares, amigos e os próprios adolescentes para falar sobre o suicídio, sobre como se sentem, o que pensam e acreditam que pode ser feito enquanto estratégia de prevenção é fundamental para abrir esse debate, que ainda é pouco apurado, mas mais do que nunca urgente para modificar essa angustiante realidade.
E você, o que pensa sobre isso?
Outras referências:
Eliane Brum: O suicídio dos que não viram adultos nesse mundo corroído
Flávia Andrade: Precisamos falar sobre Suicídio (suas estatísticas) e sobre adolescência