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Primeira infância fora da escola

9 de abril de 2018

Aumentam significativamente os espaços informais de educação para a primeira infância: será este o único caminho para combater péssimas práticas pedagógicas na educação infantil?

A educação infantil integra o que se chama de educação básica, e é assim entendida como um direito da criança. E isso não representa apenas ter uma vaga garantida numa instituição escolar, mas ter oportunidades ricas e variadas de aprender e de se desenvolver integralmente. Cabe às escolas garantir essas oportunidades contemplando especificidades de cada faixa etária e ainda um conjunto de direitos explicitados nas Diretrizes Curriculares Nacionais.

Pela importância que devem ter na estruturação curricular de todas as escolas de educação infantil, vale a pena conhecer esses “direitos de aprendizagem e desenvolvimento”, também retomados pelo recente documento que deve nortear o currículo e as definições pedagógicas dessas instituições, a Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil:

Para que as escolas atendam a esses direitos, devem ser espaços coletivos – favoráveis à interação entre crianças de idades próximas -, com ambientes organizados e mediados por profissionais de educação, de forma a possibilitar experiências distintas e de qualidade às crianças; experiências que promovam a convivência, o brincar, a participação, a exploração, a expressão e o autoconhecimento também. Porém, não é isso o que vemos acontecer em muitas das escolas.

A ampliação das redes públicas de educação infantil é recente e ainda há muito investimento técnico a ser feito para que os contextos sejam de fato favoráveis e produtivos. Sejam elas públicas ou privadas, é fato que ainda ocorrem práticas pedagógicas inadequadas em inúmeras instituições. É comum que apresentem uma rotina pouco ou nada flexível, por vezes com espaços e tempos reduzidos para o brincar. Ao invés de experiências, são propostas atividades, de caráter pontual e que não integram percursos, fazendo com que as investigações e curiosidades das crianças recebam tempo de duração.

Como rejeição às escolas para a primeira infância, há um movimento de uma parcela da sociedade para criar uma solução alternativa de educação infantil: os chamados “espaços não formais”, que vêm ganhando força para pretensamente fazer frente a este quadro de práticas pedagógicas inadequadas (confira nesta reportagem do Estado de S.Paulo). Eles reúnem grupos pequenos de crianças, com os quais atuam profissionais de distintas áreas; em alguns casos, os próprios pais dedicam parte de seu tempo para trabalhar no espaço. As mensalidades variam bastante, mas podem alcançar, por exemplo, R$ 1.600,00.

A ideia desse modelo é defender espaços que permitem que as crianças aprendam de acordo com seus próprios interesses e não aqueles impostos pela escola. De fato, estas justificativas são pertinentes. Entretanto, é possível trazermos um vasto conjunto de questões para refletirmos: será mesmo que tirar a criança da escola é o que impactará nas mudanças necessárias nas instituições de educação infantil? Como podemos valorizar os profissionais de educação e as escolas que buscam ofertar múltiplas e ricas experiências aos pequenos? A luta pela ampliação e pela qualidade das instituições da rede pública de educação infantil é uma conquista no sentido de aumentar as oportunidades para as crianças e enfrentar a desigualdade. Como ficam as parcelas da população que não podem arcar com o custo desses espaços informais? Não haveriam outros caminhos para lutarmos por uma educação infantil de qualidade para as crianças de hoje?

Nós, do Toda Criança Pode Aprender, consideramos importantes as iniciativas de combate às práticas pedagógicas inadequadas na educação infantil. Mas tendemos a valorizar a escola como uma comunidade organizada por profissionais de educação, na qual a participação das famílias deve ter um lugar privilegiado, de forma que possam discutir, questionar, instigar reflexões e não apenas assegurar o direito da criança a este espaço, mas assegurar, literalmente, todos os seus direitos de criança pequena. A luta por uma educação infantil de qualidade precisa ser feita, em especial, no cerne da própria comunidade escolar.

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