17 de abril de 2017
Confira a história desse pequeno município italiano que virou referência mundial em práticas educativas!
Tudo começou no início do pós-guerra, por volta de 1945, quando homens e mulheres arregaçaram suas mangas e se puseram a erguer a cidade de Reggio Emilia dos escombros, concordando em edificá-la a partir de uma escola para crianças pequenas.
Toda a comunidade se mobilizou diante do projeto, que via na reconstrução de sua história uma oportunidade para projetar no futuro um mecanismo transformador. Foi Loris Malaguzzi, educador italiano que, encantando-se com a nova proposta, liderou o projeto pedagógico de Reggio Emilia.
Há 50 anos surgiu o primeiro modelo de escola como um lugar de direito à infância, onde as crianças pudessem mostrar seus olhares a respeito da cidade, do lugar onde viviam. Lá, 17% da receita federal foram (e ainda são) aplicados na educação. Hoje em dia a cidade abarca 33 escolas públicas de educação infantil de enorme qualidade.
O espaço físico das escolas reflete esse valor, organizado em ambientes, sobretudo amáveis e acolhedores, que estimulam a curiosidade dos pequenos. As atividades diárias são multidisciplinares e se integram, a fim de compartilhar com todos os adultos responsáveis por essa educação um avanço na aprendizagem, desde os funcionários que trabalham na cozinha, na limpeza, nos ateliês, nas salas de aula, até as famílias dos alunos. Assim, todos dispõem de papeis iguais nessa construção. Essa parceria parte do pressuposto de que todo adulto também é um educador, e é muito importante que suas práticas estejam alinhadas, abrindo espaço para o debate, para a informação, a discussão de casos, dificuldades, intervenções… Desse modo, as questões escolares são sempre trabalhadas em consonância com a comunidade e o seu entorno.
Parte-se ainda de uma concepção de criança como alguém atento, curioso, com a mente plástica, que desde pequena tem competência e repertório para desenvolver infinitas possibilidades de aprendizagem. A escuta das brincadeiras e dos desejos dos pequenos é crucial para melhor acompanhá-los e estimulá-los em suas descobertas. Os adultos de Reggio Emilia buscam, então, entrelaçar uma multiplicidade de linguagens, sejam as artes, a música, a fotografia, a horta, a culinária, as atividades em sala de aula e fora dela, enfim, permitindo que as crianças criem formas de se expressar, criar e comunicar aquilo que faz parte do que existe de mais íntimo dentro de seus mundos infantis.
Em entrevista ao Portal Aprendiz, uma das atelieristas conta que a estética é importante enquanto estrutura que conecta. O perfume, as cores, a disposição dos objetos, as luzes, o paladar, etc, devem ser pensados a fim de despertar o interesse das crianças. Elas preparam alimentos, arrumam a mesa sobre a qual irão fazer as refeições, montam as salas de acordo com o que precisam para se aprofundar em suas experiências, dentre muitas outras coisas. Os ambientes dentro da escola são como laboratórios sensoriais e, enquanto tais, devem proporcionar aventuras do conhecimento. Além de lúdicos e curiosos, os espaços têm de ser relacionais, ou seja, capazes de acolher e construir relações. Em grupos, cada um pode falar livremente e os alunos são instigados a colocar sua opinião, para debater democraticamente as questões trazidas para dentro dele, formando um pensamento crítico que valoriza a diversidade e a infância em todas as suas facetas.
Em Reggio Emilia se entende que a pedagogia jamais pode ser neutra, pois sempre se orienta num sentido político e cultural. Sendo assim, as crianças são vistas como a maior ferramenta de transformação de uma sociedade, como porta-vozes dessa ideologia. As experiências devem conduzi-las a um protagonismo de seu conhecimento, propiciando uma pesquisa com os olhos, e as envolvendo naquilo que enxergam. A responsabilização de todos pelo espaço da escola, em sua manutenção e interlocução com a cidade os elege enquanto peças fundamentais no processo emancipatório.
Estamos vivendo um momento difícil no mundo todo pela defesa da infância, que ainda tem muito a crescer e se transformar. Precisamos encontrar formas de renovar o compromisso de educar para a solidariedade, para a liberdade e o espírito crítico. Já dizia Loris Malaguzzi: “Ousar o futuro não é um risco, mas uma necessidade para a dignidade do homem”.
E você, como pensa a escola e a sua cidade? Tem algo que gostaria de fazer para mudar estes espaços? Conte-nos abaixo suas ideias ou reflexões sobre esse assunto!