17 de abril de 2019
Precisamos discutir como a cultura da violência impacta os jovens, sem olhares reducionistas
Dez pessoas morreram em um episódio violento na Escola Raul Brasil, em Suzano (SP) em março. Ex-estudantes entraram armados na manhã do dia 13 de março e atacaram alunos, educadores e gestores – além de um comerciante próximo. O episódio, que não é o primeiro a acontecer em escolas brasileiras e guarda semelhanças com outros lugares do mundo, reacendeu a discussão sobre a cultura da violência e também sobre a posse de armas no Brasil.
O país ocupa o primeiro lugar no ranking de mortes por armas de fogo, segundo o Global Burden Disease, órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS) que pesquisa causas de morte. E são os jovens, principalmente os negros, suas maiores vítimas. Os homicídios também acontecem nos primeiros meses de uma política de flexibilização do porte de armas iniciada pelo decreto Nº 9.685, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro no começo do ano.
Para especialistas em educação e juventudes, é preciso refletir sobre como a cultura da violência impacta os jovens, e como é na educação para a diversidade que pode haver uma resposta social para se evitar a violência.
Somos um país profundamente desigual desde sua origem e fundado na violência. O processo de colonização foi brutal, com praticamente o extermínio da população indígena e 300 anos de modelo escravocrata.”
Cultura de violência e suas narrativas
Para Maria Thereza Marcílio, presidente da ONG Avante – Educação e Mobilização Social, o episódio de Suzano e seus similares não podem ser analisados sob qualquer ótica reducionista: eles são violentos porque a sociedade onde eles estão também o é. “Somos um país profundamente desigual desde sua origem e fundado na violência. O processo de colonização foi brutal, com praticamente o extermínio da população indígena e 300 anos de modelo escravocrata.”
Além de sua edificação violenta, o Brasil também perpetuou a brutalidade em seu projeto de país: é um dos que mais mata sua população LGBT, com altos índices de feminicídio e violência contra a mulher e também possui a terceira maior população carcerária do mundo.
Somam-se a isso processos ainda não sanados de violência do próprio Estado, como a ditadura civil-militar, ou de assassinatos de lideranças políticas e comunitárias que representam essa diversidade, como a vereadora Marielle Franco, cujo homicídio ainda não foi solucionado: “Nosso país tem uma tendência histórica de não encarar seus desafios e isso acontece com problemas extremamente arraigados como racismo, machismo, LGBTfobia. A violência é a faceta visível dessa dificuldade, da falta de coragem de estar no mundo visando o bem comum em primeiro lugar”, explica Flora Daemon, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora do livro “Sob o signo da infâmia: das violências em ambientes educacionais às estratégias midiáticas de jovens homicidas/suicidas“.
Nosso país tem uma tendência histórica de não encarar seus desafios. […] A violência é a faceta visível dessa dificuldade, da falta de coragem de estar no mundo visando o bem comum em primeiro lugar”
Essa cultura da violência encontra alinhavo com os discursos institucionais recentes no país. As soluções para a violência apresentadas na esfera federal – com um presidente que defende o armamento da população e o Ministro da Justiça Sérgio Moro investindo em um pacote “anticrime” de medidas, em sua maioria punitivas e persecutórias, também contribui para essa narrativa de violência, como afirma Vitor Blotta, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV).
“Com o aumento das formas de acesso a armas e a propagação de uma ideologia da arma de fogo como única maneira de se obter segurança, há a construção de visões de mundo mais propensas a aceitar e a recorrer a essas formas privadas e letais para a resolução de conflitos.”
Texto adaptado. Leia na íntegra no Portal Aprendiz.
No Toda Criança Pode Aprender, enxergamos a escola como um espaço que deve abrigar a diversidade e assimilar complexidades, o que contempla também entender o contexto social no qual cada instituição está inserida. Nesse sentido, a educação para a cidadania é de suma importância para preservar os direitos das crianças e jovens e, por consequência, fazer com que a escola seja um ambiente de combate a diversos tipos de violência, em maior ou menor escala.