Como será que a infância era vista pelas famílias aristocráticas do Antigo Regime? Será que os pais eram tão preocupados com os filhos quanto hoje em dia? Por quem eram cuidadas e educadas as crianças? O que se esperava que aprendessem?
As crianças aristocráticas dos séculos XVI e XVII viviam em castelos, relativamente isolados uns dos outros. Assim, esses lares nobres sofriam poucas interferências externas, pois o monarca geralmente não se ocupava de regular as relações familiares. Cada habitante do castelo tinha suas funções e papéis organizados por rígidas regras ligadas à tradição. As mulheres tinham a função de tomar conta da vida social e de ter filhos herdeiros, embora não os criassem nem cuidasse do lar. Enquanto isso, os homens iam à guerra.
Diferentemente dos lares de hoje, o espaço do castelo era compartilhado por parentes, criados e dependentes da família. Podiam viver juntas até 200 pessoas e a privacidade a que estamos acostumados não era possível. Além disso, as condições de higiene eram extremamente precárias.
Em meio a este contexto, as crianças eram muitas vezes cuidadas por criados ou enviadas a casas de outros integrantes da nobreza para serem educadas. Os pais pouco se ocupavam de seus herdeiros e os primeiros vínculos das crianças eram normalmente estabelecidos com outras pessoas. O aleitamento era função de amas-de-leite e se considerava que o leite era um fluido sanguíneo, sendo os bebês tomados por pequenos vampiros, sugadores indesejáveis das mulheres.
A mortalidade infantil era bastante comum e poucos eram os cuidados dispensados às crianças. Além disso, quando nascia um filho ilegítimo, o mesmo podia ser enviado a amas consideradas “assassinas”, em cujas mãos várias crianças haviam morrido.
Nesta época, os infantes eram considerados como pequenos animais incômodos, demoníacos ou, por vezes, divertidos aos olhos dos adultos. Não havia uma diferenciação clara entre a infância e a maturidade, tanto era assim que um adulto podia sentir-se ameaçado por uma criança, inclusive revidando seus atos de voluntariedade e desobediência de forma violenta. A sexualidade infantil era tratada como algo natural e os mais velhos incentivavam esta prática entre os pequenos, muitas vezes afagando seus órgãos sexuais e se divertindo ao vê-los engajados nestas atividades.
A educação envolvia espancamentos e punições públicas, quando havia transgressão das regras estabelecidas pela tradição e pela hierarquia social. Nestes momentos, o desejo era provocar na criança o sentimento de vergonha, não de culpa, como acontece mais frequentemente nos dias atuais. O controle dos atos não vinha do próprio indivíduo e sim de instâncias externas. Os comportamentos inadequados também eram explicados por meio do exame das fezes infantis, nas quais se acreditava que estavam expressos traços de caráter ou rastros do demônio.
Foi possível entender como nesta época o tratamento das crianças e a forma de compreender a infância eram tão diferentes do que se concebe atualmente? Será que hoje em dia ainda sofremos alguma influência deste tipo de visão? O que você pensa sobre este assunto? Escreva para nós!