13 de agosto de 2014
Você já parou para pensar o quanto são diferentes as regiões do Brasil? Será que uma criança de São Paulo brinca das mesmas coisas que uma criança de Tatajuba, no Ceará, ou de Pancas, no Espírito Santo?
Pois bem, o projeto Território do Brincar busca captar a diversidade de brincadeiras existentes em nosso país e documentá-las. Coordenado pela educadora Renata Meirelles, pelo documentarista David Reeks, apoiado pelo Instituto Alana e por escolas parceiras, a iniciativa procura mostrar a variedade de “infâncias” que habita o Brasil.
Muitas vezes nos acostumamos a ver as crianças repetindo brincadeiras que já conhecem e nem cogitamos a possibilidade de sugerir algo novo. É claro que a liberdade da criança de escolher sua forma de se divertir e explorar o ambiente é algo que valoriza sua autonomia e marca um momento de seu desenvolvimento. Porém, como adultos, podemos apresentar referências às crianças para que descubram novas maneiras de se expressar e de pensar o mundo.
O projeto Território do Brincar permite que saiamos de nosso contexto cotidiano e pensemos em inusitadas formas lúdicas de aprender, experimentar e criar. Além disso, nos ajuda a explorar diferentes culturas e as regiões brasileiras.
Te convidamos a conhecer algumas das brincadeiras registradas pelo Território do Brincar:
Brincadeira do Tucunaré – Comunidade Indígena do Paraná (PA)
Foto: Renata Meirelles (site Território do Brincar)
“Como surge uma brincadeira? Quem inventa? Às vezes é um peixe que ensina como brincar. Assim aconteceu com o Perankô, professor Panará da Escola Indígena Matukre.
Certo dia quando pescava, Perankô observou o vai e vem dos peixes e reparou como os menores perambulavam por águas rasas, e o tucunaré, peixe grande, não saia do fundo. Por mais que quisesse pegar os peixinhos menores, quando eles chegavam no raso, o tucunaré ia até certo ponto e voltava para o fundo. A brincadeira surgiu então dessa observação.
Como é a brincadeira:
Paus enfincados no chão amarrados por barbante demarcam o espaço da brincadeira, separando o “raso” do “fundo”. São dois quadrados um dentro do outro. No de dentro, o “fundo”, ficam quatro tucunarés ávidos por pegar os peixes pequenos. No de fora há 6 “portas” por onde uns 8 a 10 peixinhos podem escapar quando atacados pelos tucunarés, que por sua vez não podem sair pelas portas por ficar raso demais e precisam voltar ao fundo.
Cada peixinho capturado entra para o fundo e lá fica até que todos tenham sido pegos.”
Lagarta Pintada – Tatajuba (CE)
Foto: Renata Meirelles (site Território do Brincar)
“A “Lagarta Pintada” é uma brincadeira cantada bem popular em vários cantos do Brasil e as meninas de Tatajuba não ficam de fora desse grupo.
Existem muitas variações na cantiga por aí e aqui; na praia Cearense, as meninas cantam assim:
Lagarta Pintada
Quem foi que pintou
Foi uma velhinha
Que aqui passou
No tempo da era
Fazia poeira
Puxa lagarta
Na ponta da orelha
Se a cantiga varia de um lugar a outro, de um modo geral os gestos dessa brincadeira se repetem e acontece igualzinho como nos mostrou a Bruna, a Carol, a Maria, a Leila e a Ana.
Elas começam em roda sentadas no chão, com as mãos ao centro. Uma delas vai cantando e tocando uma por uma das mãos.
No final da cantiga aquela mão escolhida segura a orelha da companheira do lado. Assim, seguem cantando até que todas estejam segurando as orelhas das companheiras.”
Para quem tiver interesse, no site do Território do Brincar podem ser encontradas outras brincadeiras, fotos, vídeos e notícias. Vale a pena conferir.
Gostou? Fez alguma brincadeira nova? Como foi? Conte para nós a sua experiência!
Texto de Isabel Santana Gervitz, psicóloga formada pela PUC-SP. Isabel realiza projeto de intervenção institucional em uma escola pública da zona norte de São Paulo e já trabalhou como educadora de crianças de ensino infantil e fundamental.