30 de abril de 2019
Segundo a OMS, quanto mais os jovens têm informações de qualidade sobre o tema, mais tarde iniciam sua vida sexual.
Abordar a educação sexual nas escolas é um tema controverso. Apesar da pesquisa realizada pelo MEC (fev/2019) mostrar que a maioria dos brasileiros apoiam a educação sexual como parte do currículo escolar, grande parcela da sociedade defende que esse tema deva ser tratado apenas no ambiente doméstico. Isso porque há quem acredite que educação sexual nas escolas significa ensinar e estimular as crianças a fazerem sexo.
No entanto, ao confrontarmos essa crença com dados, podemos observar que ocorre exatamente o oposto. Após analisar mais de mil relatórios sobre os efeitos da educação sexual, quando comparados aos adolescentes que não têm esse tipo de ensino a OMS afirma que quanto mais os jovens têm informações de qualidade sobre esse tema, mais tarde iniciam sua vida sexual. Isso ocorre porque passam a entender o que realmente está em jogo ao iniciar a vida sexual.
A importância da educação sexual nas escolas
Em uma entrevista para o jornal online Nexo, a pedagoga e educadora sexual Carolina Arcari, aborda a necessidade de discutir sexualidade nas instituições de ensino, esclarecendo que a educação sexual é uma das ferramentas mais eficazes para combater a violência sexual contra crianças e adolescentes.
Apesar de muitos defenderem a educação sexual como responsabilidade reservada aos pais e responsáveis, isso, muitas vezes, acaba por não acontecer, já que os adultos não se sentem à vontade para conversar com as crianças sobre o assunto. Arcari aponta, ainda, o fato de 75% dos casos de denúncias de violência sexual envolverem o ambiente familiar. Se essa educação ficar restringida apenas às famílias, como, então, as crianças poderão ser informadas para estarem em condições de se proteger?
É necessário compreender que se as famílias não dialogam com as crianças, elas, inseridas na sociedade, aprenderão de outras maneiras, como pela mídia ou com amigos. O grande problema é que isso pode contribuir para que crianças e jovens construam uma visão errada sobre vida sexual.
Mas, então, o que é educação sexual?
Educação sexual significa falar sobre o corpo, ajudando a criança a construir sua imagem corporal e a desenvolver autoestima. É ensiná-la a diferenciar toques de afeto de toques abusivos, alertando-a que ninguém tem permissão de tocá-la nas partes íntimas, e orientando-a sobre como pode pedir ajuda em caso de perigo. Todos esses são fatores de prevenção de violência sexual.
Com as crianças pequenas, podemos aproveitar momentos como o banho e a troca de fraldas para conversar com elas sobre seus corpos, nomeando todas as partes dele, falando sempre sobre quem são as pessoas de confiança que podem auxiliá-las com a higiene e cuidados e deixando claro que carinhos e toques nunca podem ser mantidos em segredo.
Conforme se desenvolvem, as crianças e os jovens apresentam diferentes e novas demandas sobre como lidar com as mudanças que ocorrem em seus corpos e os cuidados em relação à atividade sexual, por exemplo. E é fundamental que a escola e a família continuem respondendo a esses questionamentos de forma honesta e com qualidade de informações, de acordo com cada faixa etária, dialogando também sobre como podem se proteger, evitando situações sociais de risco.
Considerando que o diálogo pode ser uma ferramenta importante na solução de problemas, é fundamental que os pais e educadores profissionais estejam sempre disponíveis para ouvir as crianças e também para responder às suas perguntas, de modo que elas se sintam à vontade para expor suas dúvidas e contar sobre qualquer situação que lhes pareça estranha.
Carolina Arcari ainda nos lembra que a educação sexual não se baseia somente em conhecer os órgãos genitais, mas envolve conceitos de autoproteção, integridade corporal, sentimentos, emoções, consentimento, sonhos, identidade, escolhas, higiene, saúde e relações.
É preciso superar a visão distorcida sobre a educação sexual, compreendendo-a a partir de fundamentações teóricas e dados e não por meio de informações falsas veiculadas pelas redes sociais. Tornar essas informações fundamentadas acessíveis para todos os públicos possibilitará que entendamos a importância de falar sobre esse tema como uma forma de combater a violência sexual contra crianças e adolescentes.
A pedagoga Arcari tem vários materiais publicados sobre o assunto. Em seu site podemos encontrar cursos online e publicações gratuitas para download.