22 de junho de 2017
A escola não é uma ilha. Inserida em um território, ela espelha a cultura local dentro das salas de aula e também influencia sua comunidade. A integração entre território e espaço escolar pode se dar de diversas formas e se transforma em processo educativo a partir do momento que propicia oportunidades de aprendizado para crianças e jovens.
Para a socióloga Helena Singer, o uso do território como campo de pesquisa com base em diversas áreas do conhecimento, como geografia, língua portuguesa, história, entre outras, é a chave para um aprendizado mais significativo: “Isso permite que os alunos estudem na prática conceitos mais abstratos e complexos que os professores podem elaborar futuramente”.
Tal perspectiva também é essencial para que os alunos desenvolvam um senso de pertencimento. Segundo o britânico Tim Gill, uma das maiores referências em infância, em entrevista ao Cidades Educadoras, “a educação é um processo de crianças aprendendo a viver. E claro que elas precisam aprender a ler e escrever, ciências e literatura, mas elas também precisam aprender a ser cidadãs, a aprender como seu bairro se formou e qual a história da sua cidade”.
Para que isso ocorra, no entanto, a escola também deve se abrir como um espaço comunitário, oferecendo atividades culturais, debates, clubes, dentre outras oportunidades de participação. “Estudantes, professores e funcionários precisam se ver como parte de um coletivo e a escola precisa reconhecer que tem uma missão: ser uma instituição que faça sentido para todos”, explica Helena.
Confira como algumas experiências no Brasil têm conseguido reverter o cenário de isolamento da escola, garantindo uma educação significativa para seus estudantes:
Viamão (RS), Ipatinga (MG) e Correntina (BA)
Território: educação e contexto
Na escola rural EMEF Zeferino Lopes de Castro, em Viamão (RS), os alunos são estimulados a aplicar no cotidiano de suas casas, fazendas, as tecnologias digitais aprendidas nas aulas. A rede municipal de Ipatinga (MG), por sua vez, convidou os alunos a mapearem o entorno de suas escolas em busca de oportunidades educativas. Já no Colégio Estadual de Correntina, localizado no município baiano de mesmo nome, a variante linguística da comunidade foi estudada nas aulas de Língua Portuguesa, dando origem a catalogação de termos como “azular”, “biscoitar” e “bucho quebrado”. Além de valorizarem saberes e, portanto, a identidade local, experiências como essas tornam os conteúdos escolares mais próximos do cotidiano dos alunos.
Itabira (MG)
Participação e construção coletiva: rompendo isolamentos
Dentro dessa perspectiva, Julio Neres, do Núcleo de Educação Integral do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), desenvolveu uma proposta de educação integral em Itabira (MG).
A ação gira em torno do que ele chama de “estado de escuta permanente”, em que educadores usam o diálogo e a atenção ao que os pais, mães e alunos têm a dizer sobre a experiência na escola e fora dela para, então, compreender o território e sua cultura. Na prática, isso fortalece as reuniões de familiares e alunos, bem como o grêmio estudantil, para uma escuta livre de julgamentos, utilizando o momento como oportunidade de aprender sobre aquela comunidade.
Outra proposta do educador Júlio Neres é mapear o território, identificando onde as crianças e famílias desenvolvem seus saberes, se reúnem. “Mas não adianta dizer que baile funk não conta, por exemplo, porque isso não é ouvir sem julgar, e nisso se perde a possibilidade de contato”, afirma.
Bela Cruz (CE)
Protagonismo estudantil: conhecimento a serviço da comunidade
A iniciativa de se conectar com o território não precisa, necessariamente, partir dos educadores. Após instituir uma cultura de estímulo ao protagonismo estudantil, esse movimento surge quase naturalmente, como ocorreu na Escola Estadual Júlio França, em Bela Cruz, Ceará.
Divalda Rios, coordenadora pedagógica, explica que há anos a instituição promove oportunidades e abertura para que os alunos busquem seus próprios objetos de estudo, a partir de temas que são de interesse pessoal, e desenvolvam desde pequenos trabalhos a projetos maiores, individuais ou coletivos.[:en]Conheça experiências de escolas brasileiras que assumiram o território como parte de seus projetos pedagógicos. Confira neste post do nosso parceiro Aprendiz/Centro de Referências em Educação Integral.
“Pequeno Grande Dicionário Dialeto de Alguns Idosos do Município de Correntina/BA”
Imagem extraída de: Centro de Referências em Educação Integral
A escola não é uma ilha. Inserida em um território, ela espelha a cultura local dentro das salas de aula e também influencia sua comunidade. A integração entre território e espaço escolar pode se dar de diversas formas e se transforma em processo educativo a partir do momento que propicia oportunidades de aprendizado para crianças e jovens.
Para a socióloga Helena Singer, o uso do território como campo de pesquisa com base em diversas áreas do conhecimento, como geografia, língua portuguesa, história, entre outras, é a chave para um aprendizado mais significativo: “Isso permite que os alunos estudem na prática conceitos mais abstratos e complexos que os professores podem elaborar futuramente”.
Tal perspectiva também é essencial para que os alunos desenvolvam um senso de pertencimento. Segundo o britânico Tim Gill, uma das maiores referências em infância, em entrevista ao Cidades Educadoras, “a educação é um processo de crianças aprendendo a viver. E claro que elas precisam aprender a ler e escrever, ciências e literatura, mas elas também precisam aprender a ser cidadãs, a aprender como seu bairro se formou e qual a história da sua cidade”.
Para que isso ocorra, no entanto, a escola também deve se abrir como um espaço comunitário, oferecendo atividades culturais, debates, clubes, dentre outras oportunidades de participação. “Estudantes, professores e funcionários precisam se ver como parte de um coletivo e a escola precisa reconhecer que tem uma missão: ser uma instituição que faça sentido para todos”, explica Helena.
Confira como algumas experiências no Brasil têm conseguido reverter o cenário de isolamento da escola, garantindo uma educação significativa para seus estudantes:
Viamão (RS), Ipatinga (MG) e Correntina (BA)
Território: educação e contexto
Na escola rural EMEF Zeferino Lopes de Castro, em Viamão (RS), os alunos são estimulados a aplicar no cotidiano de suas casas, fazendas, as tecnologias digitais aprendidas nas aulas. A rede municipal de Ipatinga (MG), por sua vez, convidou os alunos a mapearem o entorno de suas escolas em busca de oportunidades educativas. Já no Colégio Estadual de Correntina, localizado no município baiano de mesmo nome, a variante linguística da comunidade foi estudada nas aulas de Língua Portuguesa, dando origem a catalogação de termos como “azular”, “biscoitar” e “bucho quebrado”. Além de valorizarem saberes e, portanto, a identidade local, experiências como essas tornam os conteúdos escolares mais próximos do cotidiano dos alunos.
Itabira (MG)
Participação e construção coletiva: rompendo isolamentos
Dentro dessa perspectiva, Julio Neres, do Núcleo de Educação Integral do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), desenvolveu uma proposta de educação integral em Itabira (MG).
A ação gira em torno do que ele chama de “estado de escuta permanente”, em que educadores usam o diálogo e a atenção ao que os pais, mães e alunos têm a dizer sobre a experiência na escola e fora dela para, então, compreender o território e sua cultura. Na prática, isso fortalece as reuniões de familiares e alunos, bem como o grêmio estudantil, para uma escuta livre de julgamentos, utilizando o momento como oportunidade de aprender sobre aquela comunidade.
Outra proposta do educador Júlio Neres é mapear o território, identificando onde as crianças e famílias desenvolvem seus saberes, se reúnem. “Mas não adianta dizer que baile funk não conta, por exemplo, porque isso não é ouvir sem julgar, e nisso se perde a possibilidade de contato”, afirma.
Bela Cruz (CE)
Protagonismo estudantil: conhecimento a serviço da comunidade
A iniciativa de se conectar com o território não precisa, necessariamente, partir dos educadores. Após instituir uma cultura de estímulo ao protagonismo estudantil, esse movimento surge quase naturalmente, como ocorreu na Escola Estadual Júlio França, em Bela Cruz, Ceará.
Divalda Rios, coordenadora pedagógica, explica que há anos a instituição promove oportunidades e abertura para que os alunos busquem seus próprios objetos de estudo, a partir de temas que são de interesse pessoal, e desenvolvam desde pequenos trabalhos a projetos maiores, individuais ou coletivos.
Texto adaptado de Portal Aprendiz