20 de janeiro de 2016
No segundo semestre de 2015 alunos secundaristas de São Paulo mobilizaram-se contra o fechamento de suas escolas exigindo revisão da proposta de reorganização planejada pelo governo estadual. O que será que estes estudantes aprenderam ao longo do processo?
Foram semanas consecutivas habitando as escolas e lutando por um objetivo comum. Como se organizar para isso? De que forma cuidar de um espaço coletivo? Como dividir as tarefas? Ao longo das ocupações, os estudantes criaram respostas para essas e muitas outras perguntas. Encontraram meios de concretizar uma auto-gestão admirável.
Limpeza, alimentação, manutenção, segurança e programação cultural: tudo decidido em conjunto pelos jovens. Em depoimento à TV Folha, a aluna Rafaela Boani, da Escola Estadual Cefan, contou sobre o quanto considera que ela e seus colegas aprenderam ao longo do processo:
“Todo mundo cresceu. O pessoal criou uma responsabilidade muito grande. Porque assim, eu tenho hora para tomar banho, tenho hora para comer, tenho hora para a reunião… Não posso me atrasar para a reunião!”
A mesma matéria da TV Folha ainda registrou o ponto de vista de outros dois estudantes da Escola Estadual Fernão Dias Paes sobre as formas de organização adotadas pelos alunos nas ocupações:
“Todas as escolas têm uma unificação e a coisa mais legal é que tudo é decidido entre todos.” – João Constantino
“Uma assembleia, né? Eu acho que dentro de uma escola sempre devia ter isso. Para saber o que que você tem que melhorar, o que o professor tem que melhorar, o que que tem que melhorar na cozinha, no pátio, nas salas…” – Henrique Helmet
Os dias de mobilização foram marcados por shows, oficinas e debates abarcando as mais diversas pautas: discussões sobre gênero, movimento negro, questão indígena, arte, jornalismo, dança, urbanismo, política… Para os alunos esses temas deveriam estar mais presentes nas aulas regulares por serem profundamente importantes para sua formação não só como profissionais, mas acima de tudo como cidadãos.
Transparecem nas falas de cada jovem desejos de uma educação diferente, mais democrática e crítica, mais significativa e coletivamente construída. Para além da enorme capacidade de organização que os estudantes desenvolveram, estão aprendizagens fundamentais como a percepção de si mesmos como sujeitos que lutam por seus direitos, a compreensão profunda do que é pertencer a um espaço público e a aposta na possibilidade de diálogo que pode se abrir a partir de uma reivindicação coletiva.
Gabrielle Menezes, aluna da Escola Estadual Godofredo Furtado, em sua fala à Rede Brasil Atual afirma:
“Minha relação com a escola mudou. A gente agora se sente dono dela e não tem volta. Queremos que a escola tradicional seja mais como a escola ocupada.”
Os estudantes ainda tiveram o mérito de realizar algo que é sempre um desafio para a escola pública: trazer a comunidade para dentro de seus muros. O apoio prestado por vizinhos, pais e voluntários em manter o movimento dos estudantes vivo demonstrou a potência que projetos educacionais colaborativos podem ter e o quanto a escola pode ser um polo que agrega os mais diferentes saberes e participações.
E nós adultos? O que aprendemos com a mobilização destes jovens? Em entrevista para a Rede Brasil Atual, o educador Ruivo Lopes da Ação Educativa afirma: “A mensagem que fica é que esses estudantes têm projeção de vida, desejos próprios e condições de intervir na sua própria realidade”. Que as marcas deixadas por estes alunos não se apaguem e nos movimentem em direção a uma educação pública de maior qualidade.
E para saber mais sobre o tema, acesse:
– Vídeo publicado pela Revista Trip.
– Nexo Jornal: As ocupações mudaram os estudantes. Agora eles querem mudar a escola
– Rede Brasil Atual: Estudantes e comunidades nunca mais serão os mesmos