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“A terceira margem do rio” e as crianças: uma aproximação

“Imagem retirada de Catraquinha
Em parceria com Catraquinhaicone-link-externo

O Catraquinha é fruto de uma parceria entre o Instituto Alana e o Catraca Livre. O site reúne informações interessantes para pais, educadores e familiares – de agenda cultural a projetos transformadores para a infância – com o intuito de empoderá-los para que interfiram positivamente no desenvolvimento das crianças, deixando-as exercer em sua plena potência a criatividade e a autonomia.

19 de outubro de 2017

Escritor e ilustrador Odilon Morais homenageia Guimarães Rosa em livro infantil.

Não seria exagero nenhum dizer que “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa, é um dos capítulos mais importantes – e bonitos – da literatura brasileira. Publicado originalmente em 1962 no livro Primeiras Estórias, o conto ficou eternizado como uma fábula sobre a família, a loucura, o misterioso, o não dito.

O texto conta a relação entre um pai e um filho afastados por um desatino do pai, que resolve ir morar numa canoa para nunca mais voltar. Se a história se passasse hoje, provavelmente se trataria de mais uma narrativa sobre abandono paterno.

Para a nossa sorte, a arte ressoa, ganha novas perspectivas. Foi pensando nas dobras dessa história e nas possibilidades de desdobrar os seus sentidos que o escritor, ilustrador e pesquisador Odilon Moraes se lançou na jornada de continuar o conto de Guimarães.

Odilon fez isso com um intuito triplo: o de prestar uma homenagem ao autor de Grande Sertão: Veredas, que este ano completa 50 anos de falecimento, o de dialogar com sua própria paternidade e de navegar pelas margens entre a palavra e a imagem dentro de um livro.

Quem abre Rosa e passa pelas primeiras páginas, logo percebe que ali não tem uma história só. Uma história se passa no presente, e outra no passado, e cabe só a quem lê decidir qual é qual.
Ao mesmo tempo em que o texto remete diretamente ao conto de Guimarães, e conta a história de um pai que vai embora, a imagem acompanha o filho que retorna à casa de sua infância para revisitar as lembranças do pai.

Logo que o filho nasceu, parece que o homem endoidou“, diz o texto, enquanto as ilustrações mostram o filho tomando rumo às memórias de sua infância.

No conto de Rosa, a relação entre pai e filho é marcada pelo silêncio. O pai vai embora sem dizer por que, e o filho fica sem entender o que aconteceu. A história termina sem dar muitas explicações, como é próprio da arte, que mais gera perguntas do que dá respostas.

Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais.” (Trecho de “A Terceira Margem do Rio”, de Guimarães Rosa)

No livro de Odilon, o filho vai em busca do amor do pai, ele quer saber por que ele partiu, se tinha algo a dizer, se deixou algum recado para trás. E o que ele descobre diz muito sobre paternidade, sobre vínculos afetivos, sobre o próprio tempo das coisas. Longe de querer revelar o final do livro, o que cabe dizer aqui é que a surpresa vale cada linha da leitura.

Assim, é dada ao leitor a possibilidade de se reconciliar com essa narrativa inacabada, não para preenchê-la, mas para ganhar novas perspectivas, como também é próprio da arte.

O resultado é uma história sensível que demanda não uma, mas várias leituras, e que convida o leitor de todas as idades para pensar em tudo o que cabe na relação entre um pai e um filho. Uma história que faz lembrar que o amor nada mais do que é uma construção.

 

Obra: Rosa / texto e ilustrações: Odilon Morais / Ed. Olho de Vidro.

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