“O Perigo da História Única” | Labedu
Casos e Referências

“O Perigo da História Única”

“Imagem retirada de Unsplash
10 de setembro de 2018

Conheça o vídeo que fala sobre a importância das narrativas plurais na vida de meninos e meninas ao redor do mundo.

Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora Nigeriana que vem conquistando uma nova geração de leitores com seus romances de origem Africana. No ano de 2009 ela se apresentou no TED (Technology, Entertainment, Design), uma espécie de conferência realizada nos Estados Unidos e que visa promover a troca de experiências entre pessoas de diferentes áreas, e usou a sua própria história para exemplificar como pode ser ruim termos apenas uma versão das muitas narrativas existentes sobre pessoas e lugares espalhados por aí.

Em sua fala ela relata que, quando pequena, lia muitas histórias sobre personagens ingleses, que tinham a pele clara, olhos azuis, comiam maçãs e brincavam na neve. Embora adorasse sonhar com aquilo que encontrava nas páginas dos livros, foi percebendo que eles pouco tinham a ver com o seu universo. Quando entrou na Universidade de Drexel (nos EUA), aos 19 anos, ela teve essa mesma estranha sensação de não se reconhecer na fala de sua companheira de quarto. A amiga presumiu que Chimamanda ouvia músicas tribais, conhecia animais selvagens e não sabia usar um fogão elétrico pelo simples fato de ter crescido no continente Africano. Tal realidade, porém, não combinava com o lugar em que viveu.

Com o tempo, a escritora foi entendendo que as histórias que ouvimos, principalmente quando somos crianças, acabam influenciando a nossa percepção sobre as coisas, nos oferecendo um ponto de vista por vezes insuficiente a respeito delas. O “descobrimento” do Brasil pelos portugueses, por exemplo, há muito vem sendo descrito pelos europeus por meio do detalhamento do percurso que fizeram até chegar aqui, o que encontraram e como foram colonizando bravamente esse território. Mas como será que os indígenas, que já viviam bem antes dessa chegada, enxergam a história desse mesmo país? E por quais motivos essa versão não está em boa parte dos livros didáticos?

“Como são contadas, quem as conta, quando e quantas histórias são contadas, tudo realmente depende do poder. Poder é a habilidade de não só contar a história de uma outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa.” – ressalta Chimamanda. Ela acredita que insistir somente numa única face de uma narrativa significa negligenciar e tornar superficiais experiências complexas e tão ricas em detalhes. Isso inevitavelmente cria estereótipos, que se tornam um problema a partir do momento em que deixam incompleta a nossa compreensão sobre algo ou alguém.
O mesmo se dá quando crescemos sob a influência de inúmeros contos de fadas que nos falam sobre a beleza delicada das princesas, sempre prestativas e gentis. Muitas garotas acabam entendendo que esse é o único modelo que lhes cabe, mesmo que não se enxerguem verdadeiramente nele. Atualmente esse cenário vem sendo transformado e dando espaço também a outras histórias, que envolvem meninas com diferentes desejos, qualidades, cores, corpos e personalidades, revelando que há muitas formas de ser mulher. Isso oferece todo um leque de possibilidades a elas, capaz de inspirá-las a ser e existir de muitas outras maneiras.

É claro que os contos clássicos têm o seu valor, pois nos apresentam a lugares, culturas e povoados distintos, brincando com a imaginação de adultos e crianças, mas é fundamental que tenhamos também aqueles nos quais diferentes pessoas possam se espelhar, reconhecendo que a realidade vivida por elas pode sim existir nos livros e ser tão instigante quanto qualquer outra. “Histórias importam e podem ser usadas para empoderar e humanizar as pessoas”, completa Chimamanda.

Estarmos atentos às referências que oferecemos aos pequenos é, portanto, uma forma de garantir que conheçam a diversidade que existe no mundo e se interessem por ela, buscando, cada vez mais, pontos de encontro e interpretações sobre o que veem, leem, escutam… Isso dá sentido, engrandece o ser humano e, como a própria autora diz ao final de sua palestra: “quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso”.

Assista ao vídeo completo:

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