25 de julho de 2018
O que acontece em espaços de convivência como esse?
Os grandes impasses e a complexidade dos conflitos que envolvem judeus e palestinos no Oriente Médio são bastante conhecidos. Em meio a esse contexto belicoso e violento, como as crianças locais podem viver uma infância plena? De que forma é possível que compreendam as diferenças e aprendam a conviver com elas quando os adultos de referência estão imersos em situações de rivalidade?
Enquanto a maioria das instituições de ensino em Israel separam árabes e judeus, uma escola foi pensada justamente para recebê-los juntos. Esse investimento na convivência e aposta na possibilidade de que todos habitem um mesmo espaço, troquem opiniões, pontos de vista, desenvolvam amizades e aprendam coletivamente é uma tentativa de promover uma sociedade mais integrada.
Com todos os desafios que uma proposta como essa possui – desde o ensino da cultura e da língua até o manejo de conflitos que refletem valores familiares e posições políticas –, há uma riqueza muito grande em sustentar a possibilidade de respeitar as diferenças e aprender com elas, até em um contexto tão radical quanto o que está colocado.
No Brasil as polarizações entre as pessoas e a segregação social não parecem tão evidentes à primeira vista. Mas será mesmo que não somos atravessados por divisões profundas? Quando olhamos para as desigualdades sociais, econômicas e raciais que assolam o nosso país, será que não nos deparamos com um desafio semelhante? Afinal, por vezes, as crianças pouco convivem, dentro e fora da escola, com pessoas de classes sociais e de cor de pele diferentes das de suas famílias. Esse é apenas um aspecto das separações que ocorrem. Poderíamos ainda considerar, por exemplo, o que acontece com crianças que apresentam impasses no desenvolvimento ou questões psíquicas e que são constantemente deixadas à margem.
Recomendamos assistir ao vídeo abaixo, de Richard Kenny para a BBC World Hacks, que mostra, do ponto de vista de crianças e adultos, a potência de investir no respeito às diferenças e a riqueza das trocas que acontecem quando aprendemos a conviver.
Tradução livre feita pelo Toda Criança Pode Aprender:
Essas crianças são todas israelenses, mas algumas são judias e outras são árabes e elas geralmente vivem vidas separadas. Mas essa escola as ensina juntas.
Fala de uma menina: “É como se dois mundos diferentes se juntassem, misturados em um grande mundo só.”
BBC Worldhacks: Escolas Hand in Hand (Escola de Mãos Dadas)
População de Israel: 75% judeus, 21% árabes, 4% outros. Mas judeus e árabes quase nunca se misturam, alimentando as tensões do conflito israelo-palestino.
Mohamad Marzouk – Escolas Hand in Hand: “Muitas pessoas não poderiam imaginar a ideia de crianças árabes e judias indo para a escola juntas todos os dias, porque a ideia de separação é muito enraizada. Se quisermos que nossos cidadãos vivam de forma integrada, devemos começar desde o começo, no sistema educacional”
Cada classe possui dois professores, um fala árabe e o outro hebraico.
Gitit Hyden-Ronen, professora de hebraico da segunda série: “Acho que as crianças aprendem muito mais ao ouvir duas línguas. A linguagem é o básico para viver junto. Sem isso, é impossível fazê-lo. Os judeus estão aqui, os árabes e estão aqui e assim é – nós temos que viver juntos.”
Mia é judia. Aya é árabe. E elas são boas amigas.
Aya: “Eu gosto da escola, porque brincamos juntos, fazemos atividades e os árabes e judeus brincam juntos e não brigam.”
Mas o que acontece quando há conflitos entre Israel e Palestina fora da sala de aula?
Gitit Hyden-Ronen, professora de hebraico da segunda série: “Falamos sobre isso com as crianças se elas quiserem falar do assunto e apenas escutamos. Acho que se soubermos escutar, oferecemos a eles a força e o poder de lidar com isso.”
Essa escola vai até os 12 anos e depois disso os alunos passam a frequentar instituições separadas. Mas amizades podem durar.
Noga está agora na escola judaica. Lama vai a uma escola árabe.
Noga: “Ainda somos boas amigas, nos encontramos e conversamos nas mídias sociais.”
Lama: “Aprender junto é melhor, porque temos a oportunidade de conhecer o outro lado, de conhecer a sua história. Essa ideia de ir à escola juntos é o normal, somos um país. Sim, se vivemos juntos por que não deveríamos aprender juntos?”
Criança cantando música em árabe e hebraico.
Há apenas seis Escolas Hand in Hand ensinando 1500 alunos. E em Israel há pouquíssimas escolas integradas. Mas Mohamad acredita que elas podem fazer uma grande diferença.
Mohamad Marzouk – Escolas Hand in Hand: “A curto prazo, sabemos que estamos dando às nossas crianças uma educação diferente e uma alternativa para as relações existentes entre árabes e judeus. A longo prazo, queremos criar uma mudança fundamental nessa situação de conflito entre dois povos.”
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