22 de janeiro de 2014
Alguns números são surpreendentes quando se trata do desenvolvimento infantil: 700 novas conexões por segundo, 90 a 100% de chances de impacto no desenvolvimento dependendo dos riscos a que são submetidas as crianças, chances triplicadas de impacto na saúde… veja o que dizem os especialistas.
O Center on the Developing Child da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, selecionou cinco números para se lembrar sobre o desenvolvimento de crianças na primeira infância:
1. 700 novas conexões neurais por segundo
Os primeiros anos importam porque, ao longo deles, 700 novas conexões neurais são formadas a cada segundo. Conexões neurais são formadas por meio da interação de genes com o meio ambiente e as experiências de um bebê, especialmente a interação com os adultos de “dar e receber”, ou o que os pesquisadores chamam de desenvolvimento de reciprocidade contingente. Estas são as conexões que formam a arquitetura do cérebro – a base sobre a qual toda a aprendizagem posterior, comportamento e saúde dependem.
2. 18 meses: a idade na qual disparidades de vocabulário começam a aparecer
As primeiras experiências e os ambientes em que as crianças se desenvolvem em seus primeiros anos podem ter um impacto duradouro sobre o sucesso posterior na escola e na vida. Barreiras à realização educacional das crianças começam cedo e continuam a crescer caso não haja algum tipo de intervenção. As diferenças no tamanho do vocabulário das crianças aparecem pela primeira vez aos 18 meses de idade, com base no fato de terem nascido em uma família com alta escolaridade e renda ou baixa escolaridade e renda. Aos 3 anos, as crianças com pais ou responsáveis que possuem formação superior tiveram vocabulários de 2 a 3 vezes maior do que aqueles cujos responsáveis não haviam concluído o ensino médio. No momento em que essas crianças chegam à escola, já estão atrás de seus pares, a menos que eles estejam desde cedo envolvidos em um ambiente rico em linguagem.
3. 90 – 100% de chances de haver atrasos no desenvolvimento caso a criança seja exposta a 6 ou 7 fatores de risco
Adversidades significativas prejudicam o desenvolvimento nos três primeiros anos de vida e quanto mais adversidade uma criança enfrenta, maiores as chances de um atraso de desenvolvimento. Na verdade, os fatores de risco, tais como a pobreza, a doença mental do responsável, maus tratos à criança, pai ou mãe solteiros e baixa escolaridade materna têm um impacto cumulativo: neste estudo, as crianças maltratadas expostas a até 6 riscos adicionais enfrentam uma probabilidade de 90-100% de ter um ou mais atrasos no seu desenvolvimento cognitivo, de linguagem ou emocional.
4. 3x mais chances de desenvolver doenças do coração quando expostas à 7 ou 8 experiências adversas ao longo da infância
As primeiras experiências de fato “entram no corpo”, com efeitos ao longo da vida – não apenas no desenvolvimento cognitivo e emocional, mas na saúde física a longo prazo também. Um crescente número de evidências liga agora adversidades significativas na infância ao aumento do risco de uma série de problemas de saúde do adulto, incluindo diabetes, hipertensão, acidente vascular cerebral, obesidade e algumas formas de câncer. Adultos que se lembram de ter 7 ou 8 experiências adversas graves na infância são três vezes mais propensos a ter doenças cardiovasculares na idade adulta. As crianças, entre o nascimento e três anos de idade, são o grupo etário mais propenso a experimentar algum tipo de maltrato: 16 em cada mil crianças.
5. De U$4 a U$9 de retorno para cada dólar investido em programas de aprendizagem na primeira infância
Proporcionar às crianças um ambiente saudável no qual aprender e crescer não só é bom para o seu desenvolvimento – economistas têm demonstrado que os programas de alta qualidade para a primeira infância trazem retornos impressionantes sobre o investimento. Três dos estudos de longo prazo mais rigorosos encontraram uma série de retornos entre U$ 4 e U$ 9 para cada dólar investido em programas de aprendizagem precoce de crianças de baixa renda. Os participantes do programa seguiram até a idade adulta beneficiados de ganhos aumentados como retornos na forma de redução de educação especial e dos custos relacionados ao crime, e, mais tarde, um aumento de bem-estar e das receitas fiscais dos participantes do programa.
O que esses números nos dizem?
- A primeira infância importa porque as experiências no início da vida podem ter um impacto duradouro sobre a aprendizagem, o comportamento e a saúde futuros;
- Intervenções altamente especializadas são necessárias o mais cedo possível para as crianças que experimentam estresse tóxico.
- Experiências de vida precoces realmente entram na pele e no corpo, com efeitos ao longo da vida sobre a saúde física e mental do adulto;
- Fazer as coisas necessárias da primeira vez é mais fácil e mais eficaz do que tentar corrigi-las mais tarde;
- Toda a sociedade se beneficia de investimentos em programas de apoio à primeira infância.