17 de novembro de 2016
Pesquisas indicam que nem toda sujeira é prejudicial e apontam até que algumas delas podem contribuir para o aumento da imunidade da criança.
Chupeta que cai no chão e volta direto para a boca. Cachorro que lambe o rosto dos bebês engatinhando. Criança com a mão suja de terra chupando o dedo. Todas essas cenas são comuns da infância. Ainda assim, são preocupações recorrentes dos pais.
Para apaziguar o instinto protetor dos pais e cuidadores, estudos apontam que nem todas essas preocupações são necessárias e, mais do que isso, indicam que o excesso de higiene pode trazer até malefícios para a saúde dos pequenos.
O estudo do ‘microbioma’, ou seja, os micróbios que habitam o nosso corpo, é um campo da ciência que vem se ampliando nos últimos anos. A proposta é analisar qual o papel dos micróbios no sistema imunológico e provar como a falta deles pode se associar a problemas como asma, obesidade, diabetes e outros.
Emanuel Sarinho, presidente do Departamento Científico de Alergia da Sociedade Brasileira de Pediatria, afirma, em entrevista ao jornal O Globo, que a recomendação desmedida de antibióticos, por exemplo, também afeta o sistema imune. “Antibiótico só atua contra bactérias, e muitas vezes as crianças têm quadros virais. Esses remédios são maravilhosos, mas seu uso não pode ser banalizado, justamente porque eles matam também as bactérias do bem.”
O pesquisador defende que, principalmente nos primeiros anos de vida da criança, é importante deixá-los expostos a certas “sujeiras” para criar respostas imunológicas e desenvolver resistência.
“Precisamos pensar no que é mais importante na promoção da saúde: nos mantermos afastados dos micróbios ou sermos imunes a eles?”, questiona, referindo-se a uma tendência atual no sentido de melhorar a resposta imunológica, diminuindo a prescrição de antibióticos para estimular a imunidade natural das crianças.
Essa exposição aos “micróbios bons” é fundamental durante a primeira infância, argumenta o pesquisador que, além de contar casos e citar pesquisas, defende que a exposição a determinadas sujeiras ajudam a melhorar a microbiota (bactérias, vírus e fungos nanturais do organismo) dos filhos.
No livro “Let Them Eat Dirt” (em tradução livre, “Deixe as crianças comerem terra”), Brett Finlay, microbiologista da Universidade de British Columbia, no Canadá, defende a importância dos micróbios na primeira infância. Apesar de parecer um exagero à primeira vista, o título se refere à importância de deixar as crianças livres para brincar, se sujar, descobrir a natureza, os animais, sem preocupações excessivas com limpeza. Segundo ele, o “excesso de higienização do mundo” é recente, uma tendência de 30 anos para cá.
Em entrevista ao Catraquinha, a psicóloga Isabel Gervitz, do Laboratório de Educação, afirma que o conceito de sujeira é uma construção histórica e cultural. “Compreendemos a sujeira como um ‘desvalor’, e percebemos isso em vários aspectos ligados à infância, como a preocupação excessiva dos adultos com o fato de a criança se sujar ao brincar”. Leia a entrevista completa aqui.
Sem exageros, é claro, vale, então, deixarmos a criança, ainda pequena, explorar o ambiente à sua volta, brincando e também se sujando um bocadinho!