28 de maio de 2018
Conheça, aqui, as ideias do físico e matemático Conrad Wolfran, que buscam trazer impacto para as práticas de ensino da matemática.
“80% do que se aprende nas aulas de matemática não serve para nada.” Esta foi apenas uma das colocações feitas por Conrad Wolfran em entrevista ao “El País”. Físico e matemático, formado pela Universidade de Cambrigde, ele centrou a atenção e o interesse de profissionais da educação que assistiram a uma palestra sua dada na TED sobre como o ensino da matemática pode ser planejado de modo a fazer diferença na vida cotidiana das crianças. A palestra já conta com mais de 1,5 milhão de reproduções no mundo todo e vem instigando reflexões importantes sobre o desinteresse das crianças pela disciplina e sobre a forma como se ensina matemática hoje em boa parte das instituições escolares.
Suas colocações ainda são consideradas polêmicas por muitos educadores, mas favorecem um olhar mais crítico e apurado às usuais aulas de matemática que pouco contribuem para que as crianças e adolescentes interajam com números e cálculos no dia a dia. Veja, a seguir, algumas das colocações feitas nesta entrevista:
“Os matemáticos vão me odiar por dizer isto, mas antes da existência dos computadores a matemática não era muito útil no dia a dia, para a vida em geral. Como em qualquer campo em que se utilizam muitos dados, como a física, a biologia ou a saúde, a computação elevou a matemática um novo patamar. Os problemas reais do século XXI só podem ser solucionados com o uso do computador, por isso ele deve entrar no sistema educacional como uma parte fundamental da disciplina de matemática. Não tem mais sentido que as crianças façam cálculos de equações de segundo grau em sala de aula; é preciso ensiná-las a interpretar os dados e a explorar a matemática em toda a sua utilidade. Tudo bem ensinar o seu funcionamento básico, mas complicar isso tudo até o esgotamento é uma estratégia equivocada que distancia o aluno da disciplina para o resto da vida. Basta dar o exemplo da condução: não é preciso entender o funcionamento do motor para dirigir um carro.”
Wolfran defende um trabalho atrelado ao uso de computadores e à programação e foi com base nessa ideia que elaborou e implementou uma proposta inovadora de ensino da matemática na Estônia, considerado o país mais “digitalizado” da Europa, colocando-o à frente de outros, nesta disciplina, no último relatório PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).
“Há três anos, eu conheci em um colóquio o seu Ministro da Educação [da Estônia], que é físico. Dois anos depois, lançamos o primeiro projeto piloto, que está sendo adotado em 10% das escolas públicas do país. Focamos a disciplina, no caso dos estudantes do ensino médio, em probabilidade e estatística e mudamos o sistema de avaliação.”
“Tentar saber como é que o computador funciona não requer menos trabalho para o cérebro. Muito pelo contrário. Os problemas a serem resolvidos são muito mais complexos, e é aí que as crianças deveriam ser treinadas. A programação é algo que hoje equivaleria ao cálculo à mão, a saber dizer ao computador de forma muito precisa, com códigos e números, o que ele tem de fazer. Matemática, programação e raciocínio computacional devem fazer parte de uma mesma disciplina.”
É fato que as tecnologias se destacam nos diferentes âmbitos da vida das crianças, adolescentes, jovens e adultos. Saber interagir com as diferentes ferramentas e recursos de forma competente é algo que também compete à escola ensinar. Do mesmo modo, é fundamental que as práticas pedagógicas estejam condizentes com as mudanças e demandas do mundo social. Ainda que programas tão inovadores estejam distantes da realidade da maior parte das escolas brasileiras, contribuições como essas, dadas por Wolfran, podem servir como aporte para uma revisão e atualização de currículos, aulas e, sobretudo, da formação dos professores. Em tempos de implementação de Base Nacional Comum Curricular (documento recém-publicado pelo Ministério de Educação e Cultura e que deve nortear a estruturação dos currículos escolares da educação básica), é importante buscar novas referências e atualizar o ensino.
Para ler a entrevista de Conrad Wolfran na íntegra clique aqui.