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Abolir alguns livros da escola: o melhor caminho?

Em parceria com Lunetasicone-link-externo

O Lunetas é um portal de conteúdo sobre as muitas infâncias do Brasil. Pensado para famílias e interessados no tema, o site oferece informações em diversos formatos, conta histórias, provoca reflexões, inspira atitudes e também explora os múltiplos olhares sobre as múltiplas infâncias.

22 de novembro de 2018

Livros com temas considerados mais complexos têm sido abolidos por escolas atendendo a pressões externas. Mas será que este é mesmo a melhor opção? Reflita sobre isso lendo este post do nosso parceiro Portal Lunetas.

Livros proibidos, suspensos e retirados das escolas tornaram-se uma realidade nos últimos anos no Brasil. Livros infantis ou infantojuvenis. Em setembro deste ano, “O menino que espiava pra dentro”, de Ana Maria Machado (e também a própria autora) foi alvo de ataques virtuais, sob denúncias de apologia ao suicídio. A obra em questão conta sobre um garoto que brinca de ser personagem das histórias que lê, e assim imagina como é desaparecer deste mundo e viver na fantasia. No último mês de outubro, a polêmica da vez envolvendo a literatura infantil é o livro “Meninos sem pátria”, de Luiz Puntel, acusado por mais de um colégio carioca de incitar ideologias esquerdistas, por contar a história de uma família que vivenciou o exílio durante o regime militar no Brasil e no Chile. Ambos são edições antigas, datadas da década de 80.

O que estes e outros exemplos têm em comum? Podemos dizer que existe um movimento de ofensiva contra os livros infantis? Ou a questão é mais profunda, e envolve outras formas de arte como linguagem? Por que tantas obras que abordam temas sensíveis são considerados perigosos, a ponto de serem proibidos e banidos das escolas? De onde vem o medo dos tantos pais, mães, professores e responsáveis que acusaram um romance juvenil que se passa na Ditadura de doutrinar as crianças? Como acolher este sentimento?

Em meio aos ataques que se espalham pelas redes sociais, o escritor Luiz Puntel publicou um vídeo para esclarecer os fatos.
“Por causa da polarização do momento político, alguns pais do Colégio Santo Agostinho, no Rio, reclamaram que o colégio estava doutrinando marxismo a seus filhos e a direção houve por bem retirar o livro, que há anos faz parte da lista de leitura dos alunos de 6ª e 7ª séries. O que há no livro é um olhar sobre um momento histórico brasileiro, isso é verdade. Ou não houve a ditadura? Ou não houve exilados, tema do livro? Ou não houve fechamento do Congresso e intervenção nos 3 Poderes?”, diz Puntel, que é autor de dezenas de livros para crianças e jovens, muitos deles da mítica Coleção Vaga-Lume, que exerceu papel fundamental na formação literária das gerações de 80 e 90.

Por outro lado, existe um movimento positivo de observação atenta daquilo que oferecemos às crianças, seja dentro de um livro, na TV, nas prateleiras e demais referências cotidianas que fazem parte da vida de quem convive com elas.

Em entrevista recente ao Lunetas, a especialista em literatura para a infância Cristiane Tavares chama atenção para a importância de enxergar o livro para além de sua função “didatizante”, ou seja, a literatura pode fazer infinitamente mais do que explorar conteúdos escolares. “É preciso que os professores apostem na inteligência e na sensibilidade das crianças ao escolherem os livros que serão lidos e ao mediarem situações de leitura”, defende.

Giulio Proitetti, pedagogo e professor da escola “Teia de Aprendizagens”, de São Paulo, conversou com o Lunetas sobre o caso de Luiz Puntel. Ouvimos também Annete Baldi, publisher da editora Projeto e mestre em Teoria da Literatura. A fala deles amplia o debate sobre o tema e reforça o espírito crítico da educação. Para ambos, abolir os títulos da escola é um equívoco. Giulio defende que cabe à escola “produzir um ambiente em que seres humanos se desenvolvam de forma integral, tanto acadêmica quanto politicamente”.

A leitura de obras literárias no ambiente escolar precisa ser fruto de mediação, algo que demanda dos docentes bons critérios de seleção, conhecimento sobre o autor, a obra, o contexto histórico e social em que foi produzida, além de considerar possíveis focos de conversas e discussões em aula. Afina, como destaca Giulio, na entrevista: “Já é passada a hora de a população brasileira, principalmente os profissionais que postulam a posição de educadores(as) na sociedade, entender que não é o silêncio e a obscuridade que irá nos fazer ter uma visão mais empática e produtiva em relação às questões profundas e complexas da vida em sociedade […].”

Para ler as entrevistas na íntegra acesse Portal Lunetas

Texto adaptado de: Portal Lunetas

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