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Protagonismo juvenil por meio da linguagem

Imagem retirada de “Meninos de Palavra”.
29 de agosto de 2017

Como o contato com a linguagem pode empoderar meninos e meninas da Fundação Casa?

A linguagem é nossa ferramenta fundamental de interação e comunicação com o outro. Desde pequenos estamos rodeados de pessoas que nomeiam aquilo que somos, fazemos e sentimos, fazendo uso da palavra. Muitas vezes, adolescentes e crianças em condições de vulnerabilidade social recebem uma oferta muito pequena de olhares e palavras para se constituírem. Podem ficar restritos a uma expectativa que os coloca num lugar de “coitados”; “vândalos”; “baderneiros”; “desinteressados pela escola e pelo estudo”; “violentos”; “incapazes”; “bandidos”; “inúteis” e assim por diante. Essa visão que os acompanha na escola, nas ruas, nas lojas, nos ambientes de lazer e nas mais diferentes situações cria obstáculos para que possam descobrir a si mesmos enquanto sujeitos potentes, criativos, aptos aos mais diversos destinos.

O documentário “Meninos de Palavra”, de Fabrício Borges, convida a refletir sobre como o diálogo e o trabalho cuidadoso com crianças e jovens pode ser essencial para transformar não apenas suas vidas individuais, mas também a sociedade em que vivemos. O filme, disponível no YouTube, explora entrevistas e registros de oficinas do Projeto Educação com Arte, desenvolvido por educadores do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária) na Fundação Casa, com jovens que cumprem medida socioeducativa.

As atividades desenvolvidas pelos educadores contam com a interlocução entre o letramento e a arte, a música, a contação e criação de histórias, o teatro, a capoeira, o cordel e a cultura popular. Porém, a chave para a realização do projeto é a escuta cuidadosa das crianças e adolescentes participantes e a possibilidade de que utilizem a palavra e a linguagem com novos tons e sentidos, desamarrando-os de seus registros punitivos, agressivos, humilhantes e limitantes.

Conforme afirma a Especialista em Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa, Maria José Nóbrega, há a oportunidade de um olhar para esses jovens que não os vê pelo viés da criminalidade. O Arte-educador Osky Matella complementa que a partir da construção de personagens e criação de narrativas, surge a possibilidade de representarem-se como heróis das próprias histórias, criarem perspectiva de futuro e pensarem no caminho querem trilhar quando saírem da Fundação Casa.

As oficinas também são pensadas com o cuidado de não tornar aversivo ou intimidante o contato com o letramento, com os textos escritos e com a linguagem situações. Conforme explica Camila Januário, Arte-educadora, nos momentos de leitura as práticas são diversificadas:

“Tem várias estratégias: ler em conjunto e, então, um puxa o outro… E quando você lê em conjunto – com a possibilidade de meninos que não querem ler não lerem, só os voluntários vão lendo – os outros vão vendo que tem espaço para errar… Ficam menos apreensivos, vão vendo que há espaço para ler errado e tudo bem! Ninguém está criando chacota… Essa é uma estratégia, ler em grupo com voluntários. Outra possibilidade também, às vezes, quando eu vejo que o grupo tem muita dificuldade, é eu contar a história antes.”

Vale a pena assistir ao “Meninos de Palavra” na íntegra e perceber que, de fato, toda criança pode aprender quando os adultos se responsabilizam por essa causa, mesmo em meio à situações adversas.

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