21 de junho de 2018
Neste post do nosso parceiro Portal Aprendiz, conheça as ideias sobre brincar e desenhar na infância defendidas pela ilustradora peruana Issa Watanabe.
Não são poucas as memórias que a ilustradora peruana Issa Watabane tem de como adultos podem fazer crianças duvidarem de seu potencial de expressão. Ela se lembra de ver um menino mostrar o desenho de um gato para sua mãe: eram poucos e finos rabiscos, um gato magro, sem rabo e com três pernas. A mãe, na melhor das intenções, começou a corrigi-lo, adicionando a pata que faltava, o rabo balouçante, explicando como os gatos eram. Não era, entretanto, como o menino queria expressá-lo.
As próximas vezes que o menino desenhou, pairava nele sempre uma hesitação, um receio de não agradar, como se sua imaginação não correspondesse ao mundo real. Ele havia perdido o desejo de jogar.
Abrindo o seminário “Arte, Palavra e Leitura na 1ª Infância”, que ocorreu no mês de março no SESC Pinheiros, em São Paulo, a artista peruana foi convidada a ministrar uma oficina sobre a importância do brincar e do desenho na formação cognitiva e social das crianças – e sobre como os adultos não devem interferir ou podar a criatividade delas.
Para a ilustradora, “o jogo ensina a capacidade de manejar sua própria vida frente às posições externas do mundo. E a percepção adquirida durante o jogo mantém o sentimento, da vida infantil até a adulta, de que esse mundo externo vale a pena”.
“O mundo e a sociedade impõem regras, e a brincadeira mostra que podemos confrontar isso de forma criativa. E quando falo de criatividade, não falo somente de uma prática artística, mas da capacidade de transformar o que está fora. Se não a tivéssemos, seríamos pessoas sem vontade, acomodadas, cuja imposição externa seria tanta que o indivíduo desapareceria”, reforça a ilustradora. “Quando a criança joga, está desempenhando, no mínimo, três atos fundamentais em sua vida: exploração, comunicação e expressão. Está explorando o mundo, investigando-o, averiguando como são as coisas que formam sua realidade”.
Issa escolheu o desenho para a demonstração de como o mundo adulto pode cercear o desenvolvimento criativo. “Quando perguntamos para crianças entre quatro e cinco anos se elas sabem desenhar, todas respondem que sim. Quando perguntamos aos adultos, poucas são as afirmativas. Quando perdemos isso?”, questionou a ilustradora aos convidados.
É o juízo de valor, que a ilustradora sentiu no desenvolvimento de sua própria arte e também ao se aproximar dos espaços de formação infantil, o grande inibidor: é quando o adulto olha para o traço de uma criança e procura atribuir significado, seja positivo ou negativo, ao invés de enxergá-lo enquanto forma de expressão, aliada a uma imaginação que distingue pouco contornos entre realidade e fantasia.
“O traço infantil deve estar isento de ser entendido por um possível observador adulto”, defende Issa. Se o mediador ou o pai atribuem características negativas frente ao desenho – “ah, isso não está parecido com a realidade” – ou positivas – “que bonito, você desenha muito bem” – fazem com que a criança desenvolva uma finalidade para o que está fazendo; e por consequência, uma ansiedade por seu resultado.
Para conhecer outras ideias defendidas pela ilustradora Issa Watanabe, acesse aqui.
Texto adaptado de Portal Aprendiz.