Você sabia que nossas primeiras experiências ficam registradas em nosso corpo? Como será que isso acontece? Qual a importância de uma vivência da qual não nos lembraremos mais?
Como o desenvolvimento neurobiológico ocorre nos primeiros momentos de vida? Qual a sua relação com as primeiras ligações afetivas e vínculos do bebê?
Quando a criança nasce ela é completamente dependente do adulto para a sobrevivência, embora possua capacidades e experiências particulares, conforme dissemos aqui e aqui. O organismo e o cérebro ainda estão em desenvolvimento e isso torna o recém nascido extremamente sensível e perceptivo aos estímulos de seu entorno. Por isso ele é incrivelmente apto a construir conexões e comunicações cerebrais importantes, chamadas redes sinápticas, o que também faz dele um ser vulnerável.
Nesta etapa, é importante que o adulto exerça papéis de proteção e acolhimento, tornando as vivências mais brandas e seguras. Conforme vão se conhecendo, o bebê e cuidador estabelecem formas de comunicação e o adulto é capaz de dar sentido ao que a criança reivindica. Assim, um choro passa a indicar fome, dor ou sono e tais solicitações, ao serem satisfeitas, ajudam o bebê a gradativamente entender que o desconforto que sente tem um significado específico. A função do adulto de completar o gesto da criança, oferecendo a ela o necessário para sua satisfação e ao mesmo tempo dando contorno ao que é vivenciado por ela é chamada de maternagem. Embora o termo se relacione com a palavra “mãe”, não precisa ser exercida apenas pela mãe.
Quando estas primeiras vivências emocionais e corporais são positivas, ajudam a criança a criar redes sinápticas de forma mais funcional.
Mas qual a relação entre estas experiências e o desenvolvimento neurológico?
Uma das estruturas do sistema nervoso central, a amígdala, é responsável por disparar reações comportamentais frente a situações de medo e ansiedade. No recém-nascido ela é constantemente ativada, pois a proteção do adulto se faz necessária em inúmeras situações. Conforme o bebê vai tendo sensação de segurança em relação ao ambiente e às relações de forma contínua (através de cuidados adequados) acumula experiências positivas em seu sistema neurológico. Assim, a amígdala passa a ser acionada de forma mais coerente, apenas em momentos de necessidade, pois a criança vai compreendendo que nem tudo é ameaça.
Uma vez que sente o mundo como um lugar seguro e acolhedor, a criança tenderá a explorá-lo com mais tranquilidade, dando vez a sua curiosidade espontânea. Assim, adquirirá mais experiências, o que promoverá mais ligações comunicativas entre seus neurônios. A formação desta rede sináptica complexa é a base neurológica para a capacidade cognitiva e emocional.
As primeiras vivências da criança no mundo são fundamentais para a sua constituição e de alguma maneira deixarão marcas definitivas. Porém, um começo de vida não ideal não equivale a uma condenação para o futuro. A inteligência e a cognição são aspectos muito complexos do ser humano, que envolvem diversos fatores e estão em constante transformação.
Acompanhe nossa série de posts a respeito do desenvolvimento e da aprendizagem para saber mais sobre o tema!
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