2 de setembro de 2015
Quando Natalie, de 7 anos, reclamou de seu “cabelo ruim”, sua mãe propôs um exercício que a fez encarar seu cabelo afro como uma dádiva, e não um defeito: escrever uma história sobre uma menina que tinha um cabelo com superpoderes.
Fonte: Instagram oficial (@adventuresofmoxiemcgriff)
Natalie McGriff é uma menina de 7 anos do sul dos Estados Unidos, negra, que estava infeliz com seu cabelo afro. Diante disso, sua mãe Angela a encorajou a escrever uma história em quadrinhos em que a textura de seu cabelo natural fosse uma fonte de força. Assim nasceu a Moxie Girl. Moxie é uma expressão inglesa que denota força de caráter, determinação, a capacidade de encarar dificuldades com coragem e espírito. Na história, Moxie Girl é uma menininha negra que usa os superpoderes de seu cabelo afro para salvar a biblioteca pública de Jacksonville – a cidade em que Natalie mora – da destruição.
O objetivo inicial de Angela era aumentar a autoestima de sua filha. Quando lançaram a ideia da revista em quadrinhos, porém, o projeto tomou uma dimensão muito maior: elas ganharam um concurso local, e angariaram 16 mil dólares em uma plataforma de crowdfunding para viabilizar a produção da revista em grande escala. A história de Natalie ecoou entre muitas mães negras com filhas, sobrinhas, afilhadas e netas que sofrem de baixa autoestima por não estarem conforme determinados padrões de beleza, cujos parâmetros não contemplam a beleza negra. Nos Estados Unidos e no Brasil, inclusive, já houve casos de meninas que foram impedidas de ir à escola por causa de seus cabelos estilo afro.
Natalie e Angela. Fonte: Instagram oficial (@adventuresofmoxiemcgriff)
Por meio de uma história que transforma uma característica que muitos veem como um defeito em uma fonte de super poderes, Moxie Girl cria uma imagem positiva para encorajar e empoderar meninas negras, estimulando-as a sentirem orgulho de sua aparência.
Embora metade da população brasileira seja composta por pessoas negras, na mídia – televisão, revistas, desenhos, filmes – há uma predominância significativa de personagens brancos. Nos Estados Unidos, de onde vem Natalie, esse desequilíbrio também é muito presente. Uma iniciativa como a Moxie Girl é um chamariz para a crise de representação que as crianças negras sofrem: sem ter onde se espelhar, Natalie criou a própria história.
Como no caso de Cleidision, o carioca do 5º ano que pintou os personagens da Turma da Mônica de cor marrom para ficarem mais parecidos com ele, vemos uma criança clamar pelo seu direito de representação. Na falta de imagens com as quais possam se identificar, são forçadas a produzir as suas. Para, como sociedade, alcançarmos a demanda colocada por essas crianças – e inúmeras outras, além de adultos -, precisamos compreender o poder das imagens e fazer com que as nossas representações do mundo sejam mais fielmente um espelho da sua diversidade.