8 de fevereiro de 2018
Pequenos riscos… Se equilibrar no muro. Subir na árvore. Tomar banho de chuva. Cair, se machucar, levantar. Diz o ditado popular que “quem não arrisca, não petisca”. Ou, em outras palavras, nada pode ser alcançado sem correr riscos. E se isso vale para a diversão, vale também para outros desafios da vida.
Mas se a afirmação parece facilmente incorporada na vida adulta, quando se trata do cuidado com os filhos, a preferência contemporânea passa a ser muito mais pela segurança a qualquer custo. Assim o universo das brincadeiras é transformado: parquinhos sem gangorras, escorregadores protegidos por telas, casinhas de plástico, grama sintética. Afinal, quando foi que passamos a eliminar qualquer tipo de adrenalina, riscos e conquista de autonomia na infância?
“O medo do risco por seus filhos é compreensível, temos que proteger nossos filhos. Mas se queremos que cresçam e virem adultos resilientes e estejam seguros, eles têm que correr riscos na infância”, afirma o jornalista e especialista em advocacy pela infância, Richard Louv. (Fonte: “Quando o risco vale a pena”, vídeo produzido pelo programa Criança e Natureza, do Instituto Alana.)
Dizer que é preciso que crianças corram riscos para sair da zona de conforto e se preparar para o futuro não significa de modo algum colocá-las em perigo, mas dar espaço tanto para o sucesso quanto para o fracasso em determinadas situações.
A engenheira florestal, mestre em conservação de ecossistemas e pesquisadora do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, Maria Isabel Amando de Barros, defende que as crianças precisam de acidentes de pequena consequência para aprender a evitar os grandes acidentes no futuro. Ela explica que há uma distinção entre risco real e risco percebido, aquele que deve ser incentivado.
“O risco real é aquele que existe em andar de bicicleta fora da ciclovia, em uma avenida movimentada ou deixar uma criança que não sabe nadar sozinha ao lado de uma piscina. O risco percebido é aquele que a criança sente como excitante e emocionante, em que há, sim, a ameaça de algum machucado, sem consequências graves”, explica.
Cabe aos adultos, segundo a pesquisadora Maria Isabel de Barros, proporcionar às crianças experiências adequadas em termos de dificuldade e progressão, possibilitando que elas próprias percebam quando há limites e quando é preciso ir adiante e enfrentar um novo desafio.
“Em termos práticos significa permitir que as crianças tenham liberdade de decidir até que altura querem escalar, até onde querem explorar um parque, andar sozinha de um lugar para o outro, brincar com ferramentas de verdade, fazer uma fogueira e assim serem ativas”, afirma a Maria Isabel. Assim, segundo ela, as crianças podem aprender a reconhecer e avaliar desafios de acordo com sua própria habilidade, se forem dadas a chance de praticar.
A ideia da superproteção e de que as crianças são incapazes precisam ser revistas. Uma mudança de olhar sobre a capacidade de autonomia desenvolvida pelas crianças ajuda os adultos a ter a sensibilidade de perceber se e quando é preciso intervir em alguma atividade. “Podemos ajudar a criança excessivamente confiante a perceber a consequência do que não é capaz de fazer e impedi-la de se machucar. Também precisamos incentivar a criança insegura, porém habilidosa, a ir além do que lhe parece factível”, diz a pesquisadora do projeto Criança e Natureza.
Para ela, esse comportamento faz com que as crianças tenham experiências que sejam armazenadas em seu repertório de avaliação de risco, se tornando pessoas mais preparadas e equipadas para os desafios que a vida oferece. E assim retornamos à máxima de que “só se aprender a cair, caindo”. O que, no fundo, nos parece algo bem natural, mas muitas vezes negligenciado.
Para saber mais sobre o assunto, assista ao documentário “Quando o risco vale a pena”, produzido pelo Instituto Alana:
Texto adaptado de: Catraquinha