29 de outubro de 2018
Você sabia que a agressividade é importante para a formação psíquica da criança?
Muitas vezes encaramos manifestações agressivas dos pequenos como algo negativo e destrutivo. Porém, certas formas de expressão da agressividade são fundamentais para o desenvolvimento psíquico e emocional da criança. O pediatra e psicanalista inglês D. W. Winnicott (1896 – 1971) trouxe, em 1939, esse assunto à tona em seu texto “A agressão e suas raízes”, publicado no livro Privação e Delinquência.
Primeiramente, é preciso esclarecer que a agressividade para Winnicott não é sinônimo de violência, mas sim um movimento de voltar-se para fora e agir sobre o ambiente. De acordo com ele, quando os bebês são muito pequenos ainda não se percebem como alguém. É como se formassem uma coisa só com seu entorno e com seus cuidadores. Nesse momento da vida, a criança ainda não tem noção de seus movimentos, não os entende como algo seu. Ela se mexe porque isso é prazeroso e, se a partir de seus deslocamentos no espaço e atividades corporais machuca um outro, não é capaz de compreender que fez algo de mau a alguém. Essa fase é chamada por Winnicott de agressividade primitiva ou primária.
Conforme vão se desenvolvendo, as crianças começam a perceber que os objetos e as pessoas ao seu redor são independentes de sua vontade. Eles vão e vem, aparecem e desaparecem. A agressividade ajuda nessa diferenciação entre o “eu” da criança e o “outro” externo a ela, pois, à medida que se voltam para fora e agem sobre seu entorno, os pequenos vão encontrando limites para seus atos, entendendo seus efeitos nos objetos, nos outros e em si mesmos.
Quando começa a ficar mais claro para a criança que existe uma separação entre ela mesma e os outros seres, tem início a capacidade de ter consciência de que machucou alguém ou estragou algo. A partir disso, ela pode começar a se responsabilizar por suas atitudes, sentir culpa, tentar consertar ou resolver algo que foi fruto de suas atitudes e cuidar da forma como expressa sua agressividade. É claro que esse é um longo caminho, com momentos de maior compreensão e controle alternados por outros mais desafiadores.
Na passagem para esse outro tipo de agressividade, que Winnicott denomina concernida, há um enorme passo que precisa ser dado. O psicanalista afirma que isso só é possível se os adultos de referência da criança forem capazes de identificar a diferença entre seus atos intencionais e não-intencionais, nomeando isso junto dela pouco a pouco. Também é fundamental que, por mais frustrados que estejam com um ato agressivo da criança, sobrevivam emocionalmente e fisicamente a ele. Isso vai mostrando aos pequenos que o ambiente é seguro e que é possível se expressar dentro de alguns limites. Além disso, é fundamental que os mais velhos sejam capazes de dar conta dos próprios impulsos agressivos, encontrando formas não-violentas de manifestar raiva, ódio etc.
Não visamos esgotar a complexa e rica teoria de D. W. Winnicott nesse texto, mas sim convidar os adultos a conhecerem alguns de seus aspectos, refletindo sobre eles na sua relação com a criança. Que tal contar para nós, nos comentários, o que pensou sobre essas questões?