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A linguagem nos constitui

Imagem retirada de Coisas da My.
10 de junho de 2015

A voz e a linguagem são fundamentais para a constituição e desenvolvimento da criança. Assim como ela precisa de alimento para se desenvolver fisicamente, a voz e a linguagem alimentam seu desenvolvimento psíquico.

Para se ter ideia de como a interação com as crianças desde muito pequenas é fundamental e o papel que pode cumprir a conversa (voz e linguagem) com elas, retomamos aqui um fato histórico dos mais trágicos, mas bastante eloquente, apresentado-nos pela psiquiatra Marie Bonnafé, na obra Los libros, eso es bueno para los bebés.

Segundo a autora, no século XII, o rei Frederico II, da Suábia (Alemanha) – que era considerado muito inteligente e moderno para a época – tinha a hipótese de que existia uma linguagem “natural” dos indivíduos, uma língua natural.

Para poder descobrir essa língua, organizou um experimento que se revelou, ao final, muito cruel. Ordenou que fossem selecionados 30 bebês recém nascidos e garantidas a eles todas as condições para seu desenvolvimento, mas com uma única restrição: as cuidadoras dessas crianças não poderiam falar nem estabelecer nenhum tipo de contato que pudesse ser interpretado como afetivo. Sua hipótese era de que sem influência humana, a linguagem autêntica surgiria espontaneamente. O resultado foi terrível: nenhuma criança sobreviveu a esse experimento. Todas morreram antes de completar 3 anos!

Essa passagem tão trágica da história nos revela que o contato com os bebês por meio da linguagem e da afetividade são fundamentais para seu desenvolvimento. As crianças aprendem, se formam e se “alimentam” dessa interação.

Todavia, não é apenas a conversa diária que ajuda no desenvolvimento da criança. É interessante considerar que a linguagem do dia a dia, mais factual, tem características muito específicas. Ela não tem início e nem fim e seu sentido se dá na situação, com a complementação, muitas vezes, de um gesto ou de um objeto, por exemplo: “ande rápido!”, “vai esfriar”, “que bonito”…

Essa linguagem é bastante distinta da linguagem narrativa. E como as crianças quando estão crescendo precisam de uma diversidade de oportunidades para que possam se desenvolver, é fundamental que tenham também contato com essa outra forma de linguagem que oferecemos quando cantamos, quando lemos histórias, ou também quando narramos em uma conversa o que estamos fazendo, por exemplo: “hoje já fizemos muitas coisas, fomos passear e pegamos um solzinho. No parquinho encontramos alguns amigos e brincamos com eles, lembra? Depois voltamos para casa, você tomou banho, descansou um pouco e agora vamos comer uma comida bem gostosa!”

Esse cuidado, essa atenção ajudam na constituição da criança. Esse tempo dedicado a elas, essas interações significativas e essa afeição genuína que se demonstra são a “argamassa com o qual sustentarão seu mundo”*.

* Essas palavras, tão bem escolhidas, são de Daniel Goldin, que já citamos em outro post aqui.

Referência: Los libros, eso es bueno para los bebés, de Marie Bonnafé, editora Oceano Travesía.

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