24 de agosto de 2017
Conheça Mondongo, uma comunidade do Pará que aprende a partir da cultura local, lendo e escrevendo o que vivem.
Você já parou para pensar que em cada canto do nosso país existe uma cultura regional com características próprias e muito particulares, seja em relação ao clima, à sua vegetação natural, às paisagens que compõe suas áreas, os seus costumes, jeitos de falar, de se alimentar, de se vestir, de trabalhar, etc?
Enquanto na capital de São Paulo a realidade é acelerada e composta por inúmeros carros, prédios e centros culturais, por exemplo, numa das comunidades extrativistas remanescentes dos quilombos do Baixo Amazonas, Mondongo, os trajetos em sua grande maioria são feitos pelas águas dos rios, seus nativos vivem do cultivo de algodão, cana de açúcar e cacau e aprendem com os costumes deixados pelos seus antepassados indígenas, que lá são muito respeitados.
Essas vivências tão singulares acabam trazendo para os seus habitantes diferentes formas de enxergar o mundo e de se relacionar com ele. Partindo dessa compreensão, Marie Ange Bordas, pesquisadora, artista multimídia e educadora, criou em 2009 o projeto Tecendo Saberes, que com o envolvimento de crianças e professores de Mondongo, organizou, fotografou e desenhou objetos, animais, frutas e outros elementos para compor um alfabeto próprio, considerando vocábulos típicos da região.
Como já dizia Paulo Freire em sua famosa obra intitulada ‘Pedagogia do Oprimido’:
“A investigação do pensar do povo não pode ser feita sem o povo, mas com ele, como sujeito do seu pensar. E se seu pensar é mágico ou ingênuo, será pensando o seu pensar, na ação, que ele mesmo se superará. E a superação não se faz no ato de consumir ideias, mas no de produzi-las e de transformá-las na ação e na comunicação”.
Para ele, coordenar um plano de educação, incluindo a alfabetização de jovens ou adultos, tem a obrigação de realizar primeiramente uma investigação profunda tanto de palavras como de temas significativos para aquela população com a qual se está trabalhando em conjunto. Sendo assim, por meio de um processo participativo o conhecimento vai sendo tecido por meio de jogos, trocas, diálogos, estimulando os indivíduos da própria comunidade a protagonizarem a construção de seus saberes.
No caso de Mondongo, a diferença entre o boto e o tucuxi, como quebrar uma castanha do Pará, o que são desenhos kenê kuin e quais os remédios que a floresta nos oferta são algumas aprendizagens importantes para o seu povo.
Assimilamos verdadeiramente os conhecimentos que nos fazem sentido e nos tocam a partir de nossas experiências. É preciso, talvez, criar uma espécie de ponte entre o que faz parte da nossa identidade cultural e realidades inéditas para que elas possam se comunicar. Ao buscar uma referência sólida e familiar a partir do que é conhecido, somos capazes de ir ao encontro de novos universos e seguir crescendo com eles.
Vale pensar, com base nessas reflexões, de que maneira estamos pensando a educação escolar das nossas crianças e quais são as possibilidades de construção coletiva em cada cenário para que suas aprendizagens sejam mais expressivas e significativas!