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“As Meninas do Quarto 28”: Exposição traz à capital Pernambucana obras feitas por crianças vítimas do holocausto

15 de setembro de 2017

Desenhos e pinturas deste cuidadoso acervo revelam o dia a dia de 50 garotas que foram prisioneiras nos campos de concentração nazistas

O que vêm à sua mente quando você ouve falar em Segunda Guerra Mundial? Algumas palavras-chave talvez se associem de maneira encadeada a partir dessa pergunta, como: “Adolf Hitler”, “perseguição ao povo judeu”, “Gestapo”, “campos de concentração nazistas”, “Auschwitz”, entre muitas outras, compondo um pequeno recorte do que foi esse período na história mundial. Narrativas como O Diário de Anne Frank ficaram bastante conhecidas, revelando algo sobre a vida imersa nesse cenário, especialmente da Alemanha dos anos 1939 a 1945.

Muitas outras narrativas, porém, foram silenciadas e até mesmo apagadas com o tempo… Vestígios tardios, como os desenhos das Meninas do Quarto 28 acabaram sendo encontrados somente 10 anos após a professora e artista plástica Friedl Dicker Brandeis ter sido levada de Theresienstadt, cidade fantasma onde essas garotas estavam reclusas. Das 60 que por lá passaram, apenas 15 sobreviveram. Elas dormiam em beliches ou triliches estreitos, quando não dividiam a mesma cama, comiam alimentos racionados, conviviam com o frio, doenças, e, à noite, ouviam histórias lidas em voz alta por uma supervisora. Ao apagar das luzes, elas conversavam entre si, contando suas experiências, pensamentos, preocupações e medos. E dessas vivências foram surgindo suas obras nas aulas lecionadas na ala infantil por Friedl, que as instigava a colocar para fora essas emoções represadas, a fim de lhes dar alguma vazão e contorno.

Uma exposição sobre esse caso foi criada e conta com uma adaptação do livro “As Meninas do Quarto 28”, de Hannelore Brenner, jornalista alemã que escreveu sobre a vida de crianças que sobreviveram ao nazismo, além de alguns desenhos das próprias pequenas. Tal acervo foi escolhido para homenagear o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto e já passou pelas capitais brasileiras de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre. Atualmente em Recife, ficará até 29 de outubro na Galeria Janete Costa (Parque Dona Lindu – Av. Boa Viagem).

Como disseram as próprias sobreviventes do Quarto 28 que colaboraram com a produção do livro de Hannelore:

“…pretendemos fazer com que nunca mais ocorra algo semelhante ao que vivenciamos. Também gostaríamos que valores humanos, que foram tão importantes para nós e que ainda o são, permaneçam vivos: sentimentos de humanidade, educação e cultura, compaixão, coragem, civilidade e tolerância.”

Desde o final da Segunda Guerra essas meninas estiveram espalhadas por todo o mundo. Somente poucas mantiveram contato nos anos que seguiram ao Holocausto. Passaram-se quase cinquenta anos até o seu reencontro (em outubro de 1991), no qual a maioria das meninas levadas a Theresienstadt se reviu pela primeira vez, em Praga. Vieram de todos os cantos do mundo – Israel, Rússia, Inglaterra, Suécia, Alemanha, Áustria, Tchecoslováquia – a convite da autora do livro, que buscava reconstruir os pedaços mais importantes desse quebra-cabeça, desejando ter a oportunidade de, junto a elas, reescrever essa história que tanto lhe tocou.

Segundo seus próprios relatos, foi um momento inesquecível para todas. Na recepção de um hotel internacional riram e ficaram surpresas com o que sentiam em relação umas às outras. Eram os mesmos sentimentos que tinham quando crianças. Sentiram-se novamente como uma só família, e cultivavam uma espécie de empatia muito grande entre si. Desde então passaram a se reunir com frequência. Lembram-se perfeitamente de todas as suas companheiras de quarto, das cuidadoras, professoras, artistas e especialmente daquelas que infelizmente não resistiram a essa terrível tragédia. Foi um consenso dizer que sentem uma necessidade imensa de arrancar do esquecimento aquelas meninas que nem mesmo tiveram um túmulo em sua homenagem.

A todos que tiverem a oportunidade de passar por Recife ainda esse ano, vale dar um pulo para conferir esse importante trabalho de resgate e memória!

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