13 de setembro de 2018
Já parou para pensar sobre como as canções de ninar impactam o desenvolvimento dos bebês antes mesmo deles nascerem? Confira neste post do nosso parceiro Portal Lunetas.
Se vasculhar bem suas memórias mais profundas, talvez se lembre que muitas de suas lembranças sonoras antigas são canções de ninar, entoadas por vozes familiares. A voz materna e as canções de ninar estão aí para nos lembrar que certos sons são fundamentais para sustentar a arquitetura de nosso ser, chegando até a ter potencial curativo.
Nesta matéria, o Lunetas convidou a psicóloga e especialista no assunto, Silvia de Ambrosis Pinheiro Machado, para conversar sobre a importância do acalanto para o afeto, a construção da identidade e o crescimento saudável do bebê. E, mais do que isso, para os pais e cuidadores terem sempre em mente que uma música cantarolada para uma criança ainda na barriga não é nunca um gesto à toa, mas sim um ato de amor e de criação de laços seguros. Para ela, a canção de acalanto tem a potência tanto de afugentar medos e angústias das crianças, quanto de tranquilizar a relação dos adultos com o mundo, criando assim um ciclo positivo de autocuidado e afeto com o outro.
Autora do livro “Canção de ninar brasileira: aproximações“, Silvia acompanhou diversas famílias e crianças durante os períodos de pré e pós-natal e primeira infância para compor sua pesquisa, publicada em 2017 pela Editora da USP. Na obra, ela analisa as canções de ninar do ponto de vista contextual brasileiro. Afinal, para além de seu efeito apaziguador, tais músicas revelam a trajetória histórica do povo brasileiro – em suas belezas, e igualmente em suas tragédias, como a forte presença de marcas escravocratas em algumas letras, como veremos adiante.
Considerando que uma canção de ninar é o primeiro objeto cultural a que somos expostos, ela é parte crucial do ambiente que cerca não só as famílias e os bebês, mas também os profissionais de educação e saúde que acompanham as crianças em seu desenvolvimento. Silvia explica que a audição é um dos primeiros sentidos desenvolvidos durante a gestação.
“Mais importante ainda é pensarmos que a audição é um forte aliado na adaptação inicial do recém-nascido: batimento cardíaco da mãe, vozes conhecidas, cantigas escutadas no último trimestre de gravidez são sonoridades familiares ao bebê e podem acalmá-lo em situações de desconforto adaptativo”, pondera.
A fala de Silvia chama a atenção para um ponto interessante: todo e qualquer som ouvido durante os últimos três meses da gestação formam o que podemos chamar de inventário de primeiros sons da criança. E, quando falamos “som”, vale considerar que não são só canções ou assovios de afeto, mas também ruídos negativos, como barulhos muito altos da cidade ou de discussão entre as pessoas. Tudo isso vai formando as primeiras referências de mundo da criança, e construindo sua relação com a vida exterior ao útero.
Mas afinal, quando o bebê ainda está crescendo na barriga, com seus sentidos aos poucos aflorando, de que forma as canções de ninar influenciam seu desenvolvimento. Como isso acontece, e como se reflete depois? Para saber mais sobre isso e ainda sobre outras questões envolvendo o papel dessas canções na vida dos bebês, acesse aqui. Confira também, na íntegra, a entrevista da pesquisadora e dicas dadas por ela de canções de ninar “tipicamente brasileiras”.
Texto adaptado de: Portal Lunetas