9 de julho de 2018
Entenda como a nova política norte-americana de controle das fronteiras vem impactando o desenvolvimento infantil dentro das famílias que vivem esse fluxo migratório.
Nas últimas semanas, áudios e imagens que revelam o rígido controle estadunidense sobre quem entra no país foram exibidos em mídias de grande circulação, denunciando a violenta repressão a quem ousa cruzar a sua divisa, especialmente com o México. Meninos e meninas das mais variadas faixas etárias estão sendo distanciados de seus familiares e mantidos em centros provisórios com grades – alguns são até enviados para outros estados do país. Só em abril desse ano já foi registrado que cerca de 2300 crianças foram apreendidas nesse fluxo migratório e estão temporariamente afastadas de seus responsáveis. Dentre elas, 51 são brasileiras.
Isso vem ocorrendo porque o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu uma ordem que aparta as famílias em caso de tentativa migratória ilegal. Essa política de intolerância não é recente: desde 2005 a detenção de pessoas cruzando a fronteira dos Estados Unidos com a documentação irregular já vinha acontecendo, mesmo que a medida andasse na contramão dos alinhamentos internacionais de proteção ao imigrante. O que mudou de lá para cá é que agora, além de detê-los, foi liberada uma determinação que visa o desmembramento familiar como forma de punição por avançar contra o limite imposto pelo Estado.
Essa prática fere em grande escala os direitos da criança e do jovem, que se acabam desamparados e forçados a viverem um processo de ruptura intensa com seus pares, com suas famílias estendidas, com seus países de origem, com suas escolas, culturas, comunidades e até mesmo com a suas línguas. Segundo Thais La Rosa, articuladora comunitária do Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC): “Emigrar pode ser uma experiência arriscada e perigosa para crianças e adolescentes, uma vez que há a possibilidade de serem expostos, ainda durante o trajeto, ao terror da exploração, coação, violência e isolamento”, explica em entrevista ao Portal do Centro de Referência em Educação Integral.
É importante lembrar que esse tipo de trauma, movido pelo medo, pela angústia e por tantas privações, deixa marcas psíquicas muito significativas na história de vida desses pequenos. Em um momento no qual deixam todas as suas referências para trás em busca de melhores oportunidades, oferecer cuidados para que essa vivência possa ser aos poucos elaborada é o mínimo que se pode oferecer a eles. Mais do que nunca, deveriam estar amparados por suas famílias. Garantir a construção de uma rede social composta por novos amigos, professores, membros da comunidade de origem e da comunidade local também é fundamental nesse processo, onde a inclusão seria colocada como um norte no acolhimento dessas crianças e de seus familiares. Infelizmente, essa é uma realidade bastante distante da que temos acompanhado, especialmente para a política norte-americana, que não tem tomado como prioridade a solução dos conflitos migratórios.
E você, o que pensa sobre isso?