Sobre a importância de detectar e intervir no sofrimento psíquico na primeiríssima infância | Labedu
Casos e Referências

Sobre a importância de detectar e intervir no sofrimento psíquico na primeiríssima infância

Imagem retirada de Pixabay
6 de agosto de 2018

Você sabia que é necessário cuidar disso desde cedo?

As questões relacionadas ao sofrimento psíquico e seus impactos sobre o desenvolvimento são pouco discutidas e consideradas no acompanhamento das crianças ao longo da primeira infância. Os psicanalistas Alfredo e Julieta Jerusalinsky, estudiosos do tema, chamaram atenção para o assunto em debate ocorrido no Centro de Estudos Psicanalíticos, em maio de 2018.

Os especialistas relataram que normalmente as famílias procuram ajuda para as crianças com algum sofrimento psíquico entre os 3 e os 7 anos. Antes disso todos os cuidados e preocupações se concentram nas questões orgânicas. Porém, quando os aspectos psíquicos são finalmente levados em conta é comum que já tenha decorrido um longo percurso no qual os pequenos expressaram sinais que mereciam atenção especial e que passaram despercebidos. Caso tivessem sido notadas até cerca de 18 meses, essas manifestações poderiam ter gerado intervenções precoces, que teriam papel preventivo frente a impasses mais graves.

Entretanto, conforme apontam Julieta e Alfredo, os profissionais que acompanham a primeiríssima infância (tais como pediatras, enfermeiras e educadores profissionais) não recebem qualquer tipo de formação para perceber aspectos do sofrimento psíquico nas crianças. Grande parte dos sinais apreendidos em casa e compartilhados com serviços de saúde e creches não são aprofundados, gerando isolamento da família na responsabilidade pelos cuidados com a criança.

O que costuma acontecer é que uma postura expectante é adquirida e, quando os pequenos completam por volta de 3 anos, é realizado um diagnóstico fechado, gerando uma série de atravessamentos nas relações da criança com os outros e nas expectativas que sobre seu desenvolvimento. Caso a detecção de que algo não vai bem acontecesse mais cedo, Isso poderia se dar de outro modo. A partir dela, seria possível realizar intervenções constitutivas fundamentais.

Para isso, é necessário que os profissionais que lidam com a infância tenham conhecimento dos diferentes momentos e etapas da estruturação psíquica e aprendam a ler o olhar, o endereçamento corporal, a organização dos hábitos, os choros, vocalizações e comunicações produzidas pelas crianças na sua relação com os outros. A observação dessas manifestações não deve ser considerada a partir de um check list que identifica presença/ausência de certos comportamentos, mas analisada em diferentes contextos de experiências subjetivas do bebê, levando em conta como o outro o convoca.

A ideia não é fechar um diagnóstico para as crianças na tenra infância, mas sim identificar se algo não vai bem e se é preciso buscar ajuda. A contribuição de um especialista pode ser estruturante na vida do bebê e na sua constituição psíquica.

Vale lembrar que, embora isso ainda não faça parte o cotidiano da rede de saúde e de educação, a detecção e a intervenção precoces de questões psíquicas estão previstas no Marco Legal da Primeira Infância e na Lei 13.257, que dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância e altera o Estatuto da Criança e do Adolescente.

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