24 de agosto de 2016
Viver num tempo digital em que se utiliza cada vez mais das tecnologias para a comunicação é motivo para deixar de lado a caligrafia? Entenda quais os impactos dessa substituição e como ela pode interferir no desenvolvimento das crianças
Há quem acredite que aprender a escrita à mão está com os dias contados. É evidente que a troca pelos teclados vem ganhando cada vez mais espaço numa era em que a informação e as mídias entraram como ferramentas facilitadoras e de conexão com o mundo. Sendo assim, que função pegar num lápis ou numa caneta e desenhar letra por letra teria senão nos dar ainda mais trabalho para consumar esse acesso?
Uma matéria da Uol explica, do ponto de vista de diversos profissionais, como pediatras, pesquisadores e professores, algumas razões pelas quais se deve insistir nessa prática.
Fora a aquisição de habilidades motoras, debruçar-se sobre uma superfície e traçar essas formas particulares que convertem pensamentos e ideias em palavras, demandam uma atenção especial que exige controle, preensão, planejamento, ativando, assim, inúmeras faculdades cognitivas; o cérebro todo é ativado e convocado a decodificar esse novo desafio proposto. As pessoas precisam ver as letras “nos olhos da mente” para reproduzi-las, afirma Virginia Berninger, principal autora do estudo. “Dominar a caligrafia, mesmo com letras bagunçadas e tudo, é uma maneira de se apropriar da escrita de maneira profunda”, ressalta. E essa apropriação pode se dar de tantos modos!
Quando escrevemos deixamos uma marca muito particular nossa, que vai se delineando e se transformando ao longo do tempo conforme nos experimentamos, e isso é único para cada pessoa. O tanto de peso que se coloca nas mãos, a preferência por letras de forma ou cursivas, optar por fazê-las mais compridas, arredondadas, enfeitadas, formatando o texto, brincando com sua estrutura…
De acordo com os defensores da produção manuscrita, por meio desse movimento, um elo que nos conecta a muitos universos, e ele se dá sempre, em algum nível, pela via do afeto, seja na inclinação de alguém que está se dedicando a ensinar, pelo que esse aprendizado representa na vida de cada um, pela liberdade adquirida ao grafar uma mensagem que será compreendida e compartilhada, pela experiência estética que as palavras grafadas à mão suscitam, enfim, são muitos os motivos pelos quais esse trabalho tão rico pode ser defendido.
Isso não quer dizer que devemos abandonar a digitação, muito pelo contrário, ela pode ser uma aliada que padroniza, difunde, veicula, agiliza as transmissões e nos leva a lugares jamais antes imaginados, além de outras vantagens como favorecer o processo de revisão textual e promover a interação das crianças com todos os símbolos usados em nosso sistema de escrita, via teclado (letras, pontuação, acentos etc.).
Para finalizar, deixamos uma sugestão: que tal convidar uma criança para escolher um remetente e enviá-lo uma carta escrita à mão, pedindo para que ele responda da mesma maneira? Deixe um comentário nos contando como foi essa experiência.