21 de setembro de 2015
Leia aqui sobre o artigo da antropóloga Adriana Facina, publicado na Folha de São Paulo, sobre a importância de ampliar o olhar sobre famílias em contextos de pobreza e privação de direitos.
Muitas vezes pensamos que há apenas uma maneira correta de criar uma criança. Guiados por essa ideia ficamos em busca de receitas do que fazer e do que não fazer e nos esquecemos de olhar para as situações concretas que estão à nossa frente. Quando agimos desta maneira, ignoramos algo muito importante: a multiplicidade de contextos em que uma criança pode crescer e como cada um deles terá sua própria maneira de lidar com as questões da infância.
Assim, a diversidade de maneiras de educar e cuidar é extremamente desejável, pois cada conduta só adquirirá sentido em meio às particularidades do contexto em que está inserida. Todas as crianças precisam ter seus direitos assegurados e cada realidade permitirá uma forma diferente de realização disso.
Em nosso post “Pequenos Notáveis: a superexposição da infância” falamos sobre aspectos que não são favoráveis à vivência plena da infância. A exposição excessiva da criança em shows, redes sociais e outras mídias, a participação constante dela em ambientes adultos, a preocupação frequente que tende a desenvolver com a própria imagem e com os lucros das próprias atividades são exemplos disso. Estes fatores fazem com que a criança acabe ocupando um lugar adulto e não receba a proteção necessária ao seu desenvolvimento.
A antropóloga Adriana Facina levanta outros aspectos que avalia serem ainda mais fundamentais no aproveitamento da infância, ressaltando que uma criação que não segue o modelo da elite não é um problema. A autora questiona, em seu artigo “Moralizar os Pobres” no caderno Opinião da Folha de São Paulo, o olhar preconceituoso e moralista que muitas vezes se volta para as famílias que habitam comunidades mais desfavorecidas economicamente.
Adriana afirma que é comum que classes sociais privilegiadas foquem sua crítica à educação de crianças em contextos de pobreza na exposição a situações que parecem inadequadas à infância (como bailes funk, por exemplo). Enquanto isso, deixa-se de dar ênfase a aspectos mais profundamente essenciais que são vivenciados por estas famílias, como o contato constante com casos de violência, a desassistência a que estão sujeitas e a constante violação de direitos que sofrem e que testemunham diariamente.
A desigualdade econômica e social em que vivemos faz com que se deixe muito a desejar em relação à garantia de direitos essenciais da infância. Porém, isso não deve confundir-se com as particularidades que cada família – inserida em sua rede de relações, dentro de um contexto específico – imprimirá à educação de suas crianças. Não é possível, nem desejável, definir uma maneira única de agir e pensar, pois isso não daria conta de nossa realidade, que é muito diversa e complexa.