Sexualidade Infantil #3 - a conquista dos controles corporais e as primeiras idas ao banheiro | Labedu
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Sexualidade Infantil #3 – a conquista dos controles corporais e as primeiras idas ao banheiro

Imagem retirada de Pixabay.
5 de dezembro de 2016
Este artigo faz parte da série:

Sexualidade Infantil

Dando continuidade à nossa série, que tal explorarmos a próxima região do corpo da criança a ser coordenada por ela, após sua passagem por uma intensa investigação do mundo através da boca? O que será que essa novidade representa em seu desenvolvimento? É o que vamos descobrir aqui…

 

Por volta dos 2 e 4 anos de idade ocorre a segunda etapa na evolução da sexualidade infantil, caracterizada por uma organização em torno dos esfíncteres, músculos responsáveis por reter e eliminar a urina e as fezes do corpo humano. Os pequenos sentem prazer ao realizar esses movimentos pela primeira vez, conferindo-lhes um sentimento de realização e independência muito grandes. É válido pensarmos que algo bastante simbólico caminha ao lado dessa vivência biológica, levando a uma elaboração infantil do que deve fazer parte de si mesmo e do que se consegue desapegar, deixando partir o que não se pode mais aproveitar desse processo. Muitas crianças retêm o cocô, gerando certa apreensão em seus pais ou cuidadores. Elas também sentem prazer na reação de atenção que recebem com a preocupação que notam neles. Quando liberam as fezes, os adultos se sentem aliviados, demonstram que estão felizes, o que é gratificante para a criança. Essa tranquilidade e felicidade que explicitam ao ver que a criança fez cocô contribui para que a mesma sinta que as fezes são como um presente valioso produzido por ela.

Se pararmos para pensar, o tema do “cocô” especialmente parece estar ligado a múltiplas questões na sociedade ocidental. Do ponto de vista cultural, encaramos as fezes como algo sujo e compreendemos a sujeira como um ‘desvalor’. Isso fica claro em situações cotidianas, onde, por exemplo, há uma preocupação excessiva dos adultos com o fato da criança se sujar ao brincar, ou a partir da importância que damos à organização e higiene pessoal. Surge então uma dupla tarefa a esses pequenos exploradores: vivenciar plenamente tal domínio corpóreo, em prol de uma nova aprendizagem, mas também se adequar ao meio social que irá exigir ainda mais de sua adaptação.

O envolvimento em sociedade demanda, como todos sabemos, um cumprimento de regras, onde temos de abrir mão de nossos prazeres imediatos em prol da vida coletiva. A criança acha gostoso defecar e manusear suas fezes, não as julgando como algo nojento. Quando se insere num grupo, deve renunciar a essa forma de prazer e a outras tantas relacionadas a satisfações corporais, como, por exemplo, morder outras pessoas e mexer nos órgãos genitais a qualquer momento. Pensando por esse viés, chegará também o momento em que não será mais aceitável sujar as fraldas, e o penico ou o vaso sanitário serão introduzidos como objetos substitutos aos quais ela deverá se dirigir ativamente para urinar ou fazer cocô.

Um desfralde bem sucedido, porém, terá de contar com a ajuda de adultos engajados de maneira cuidadosa e sabendo respeitar o tempo da criança, que não o mesmo para todas. Aproximá-la pouco a pouco do banheiro, mostrando como é valioso entender o próprio organismo para conseguir satisfazê-lo, pode ser uma forma de convidá-la a experimentar esse novo espaço, que é apropriado e higiênico para fazermos nossas necessidades. É evidente que algumas se adaptarão a isso sem problemas. Entretanto, será muito particular a forma como cada qual reagirá diante dessa missão. As consequências são imprevisíveis, pois não funcionamos a partir do modelo de causa e efeito. É absolutamente singular o que cada um compreende, elabora e experimenta, dependendo de recursos internos e da relação que se estabelece com as partes do corpo no decorrer do desenvolvimento.

Portanto, podem ocorrer expressões muito diversas do desfralde idealizado pelos adultos, observando desde sintomas corporais até manifestações no comportamento da criança. É necessário entendermos que está em jogo um complexo funcionamento que entrelaça características biológicas a fatores emocionais, dentro de ambientes que proporcionam estimulações e respostas muito específicas em cada pessoa. Daí a importância de ajudar a criança empaticamente nesse momento tão especial, levando em conta os sentimentos envolvidos nesse percurso que de modo gradativo a levará em direção à independência.

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